Aventuras da alma

É noite, tarde da noite, e tento ainda perceber algum êxtase nas coisas que me rodeiam em meu quarto. Olho para o pequeno Televisor desligado, que reflete uma pequena luz do fundo do quarto. É a luz do abajur, que agora aparece mais forte no espelho em frente de minha cama. O vazio é sensível, e alguns pingos da chuva que se foi, insistem em cair no alumínio da janela.

O sono parece longe, mas sinto o estremecer da angústia forçar o meu tórax, como um ser aprisionado buscando o seu dia de liberdade plena. Sei que jogado na cama, disperso, far-me-ei livre, porém, os lugares que percorro pela noite dentro há muito não me fascinam.

Esse ser aprisionado, que sou eu dentro de mim, procura agora na quietude do seu quarto, a fórmula primaz para rever a história dos seus dias, e como criar a luz dos sentidos para um rumo que aparece tão desconhecido e sombrio.

Quero contar-lhes a minha história, e gostaria de sentir mais uma vez o êxtase das coisas que fazem parte do meu dia e noite, porque elas vivem e brincam quando o meu espírito está feliz.

Mas agora meu espírito é cúmplice, culpado ou talvez inocente, e o júri da consciência o mantém sob vigília constante. As vezes ele se comporta como um poço de virtudes, outras, como o esquartejado ser, que paga pelos seus pecados. Há luz em suas investidas, mas também há dúvidas que quer resolver. Talvez o caminho está na sua história, ou a história está no seu caminho.

E quero contar, dizer, gritar ou sussurrar a necessidade em descobrir o caminho da sensação de plenitude a que sinto ter o direito, momentaneamente ceifada. A decisão e o caminho estão à frente e tentarei seguir decidido, mas o passado está cheio de novas trilhas que não tive tempo ou inteligência para descobrir o rumo. Sei que minha alma deve voltar. Voltem comigo e acompanhem a jornada simples que permeou minha existência até o momento, para que possamos entender até quando e onde a falta de êxtase das coisas do meu quarto vão permanecer.

Olho para a luz refletida no espelho novamente, e sinto o tórax ser forçado novamente pelo sopro do meu âmago. Sinto vontade de desistir, mas sei que vivi essas sensações de coragem e desistência outras vezes, e preciso ir de vez algum dia. Talvez seja hoje, talvez seja amanhã. Vou me desfazer desta percepção agora, pois preciso libertar algo que me força o peito.

Vamos esperar pelo que “ele” vai trazer esta noite, depois que sair por aí vendo e vivendo coisas. Tomara que ele não esconda muito para a minha consciência. Olho mais uma vez para o espelho. Meus olhos são tristes nele. Porque choram olhos meus, se o que sempre quero é que brilhem felizes? São vocês o meu espírito e alma aprisionados? Serão vocês as portas do calabouço desse ser que aqui dentro está? A Calma se instala e a viagem começa por hora ininteligível.

As portas se abrem para visões mágicas, e o passado, o presente e o futuro se fundem numa vivência inquieta por caminhos nunca antes percorridos. Torno-me vítima e herói, rastejando ou voando, sentindo a liberdade de ser eterno e extasiado com as maravilhas do desconhecido mundo dos meus sonhos.

Antonio Marques de O Santos
Enviado por Antonio Marques de O Santos em 07/07/2010
Reeditado em 28/11/2013
Código do texto: T2363041
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