PARA CADA UM, O MERECIDO

Poderão dizer que nada escutaram

Poderão alegar que nada sabiam

Poderão desdizer o que já se disse

Poderão negar o que se afirmou.

Não se estranha os desvios escolhidos

Quando não se têm as convicções assentadas

Porque aquele que vacila frente ao mitômano

Desconhece suas próprias razões e verdades.

Mas àquele que se apóia nas suculências do poder

Cede tão logo se depara com igual força disposta ao embate

Que autoriza aos da vigília em apoio aos seus da praça iguais

A certeza que nada supera quando se sabe a que veio.

E travado o bom combate

Não se terá os da praça por perdedores

Porque não se torna derrotado o que lutou

Mas aquele que se omitiu conhecendo as razões da luta.

E aquele que seguiu sem arma para o campo de batalha

Viu nos companheiros a mesma vontade e disposição

Da conquista não por troféu ou mesmo medalha

Mas a certeza que lutaram pelo seu direito.

E aquele que não desfrutou de valiosas companhias

Não terá em avançada idade e a vista fraca

Lembranças de tempos idos e não compartilhados

Nem saudades dos amigos que na luta fez.

E se a vida se resume pelo que se vivenciou

E plenamente tudo se fez para tivesse algum sentido

Então digo que não se mede a vida pelas rugas

Nem tão pouco pelos cabelos brancos

Mas pela intensidade com que se viveu.

E aquele que viveu por inércia ou mesmo submisso

Não se poderá dizer que viveu por muito tempo

Mas que existiu por muito tempo.

Então, e por fim, aqueles que lutaram frente ao tirânico senhor

Como a uma árvore cujas raízes a terra fincaram e brotaram

Cresceu e bom fruto produziu e deu novas safras

E os que preferiram o transcurso dos fatos por eles mesmos

Já não posso dizer o mesmo e como a uma planta sem água, secou.