Pensamento Emaranhado.
Tarde grisalha e fria de inverno,propícia aos enlevos
do pensamento emaranhado em seus próprios questionamentos.
Podia perceber/perceptar a vida se atirando lentamente
em frente, sempre buscando o que não sabia almejar e talvez
almejando o que não ousava buscar.
O dia passava oleoso,denso em sua solidão requentada.
Talvez fosse tempo de espera, de entresafra de amor.
Quem sabe defeso de pescar sonhos e coletar ilusões
doces de desejos (in)contidos em si de tão intensos/densos.
O vento frio e úmido balançava as cortinas da janela e
da alma (in)quieta e (des)ajeitada em sua espera pelo que
sequer sabia aguardar.
A alma estava em silêncio,torpe/adormecida.
Sentia o coração pulsando vagarosamente, enchendo cada
veia, cada artéria e extravasando emoção agoniada e ansiosa.
A vida apesar de gritar dentro dela, seguia silente e adiante,se
adiando aqui, se adiantando ali...
... a vida seguia vivendo.
Havia um rumo/prumo,que já não sabia decifrar em sua
cartografia do destino.
Um carma sem explicação, sem sortilégios.
Havia uma chegada ao fim.
O fim de mais um dia de frio calor, de seca umidade, de
aniquilante espera pelo que nem sabia ao certo o que seria,
mas ansiava esganar/estraçalhar a solidão que era então a
sua mais frequente e espaçada companheira.
E queria tal qual criança colocar o nariz na vidraça e sentir os
respingos de orvalho se esparramando preguiçosamente pelos
vidros e lembrando que lá fora os pensamentos ainda fluiam
como pipas soltas ao abandono do vento,colorindo de sonhos
as cinzentas rugas de uma tarde de inverno.
Márcia Barcelos.