ANTES DO ADEUS.

Sinto nas esferas do tempo, refletido no espelho

da alma, que se aproxima o derradeiro instante...

Respiro em tremenda ausência de ar,

tento viver sem forças para aceitar que é quase certa a

hora de partir, mas como a chegada é certeira, também á

indefectível a ida.

Mas neste momento de luta e de luto te peço...

Peço que se vá de uma só vez quando chegar a

hora.

Não há razão para demora/esperar para quê?

A mansa e silenciosa partida, a compaixão descabida

a doce piedade, o silêncio a pedir perdão.Não.

Não.

Não se faz necessário pintar com cores vibrantes os

tons já esvaidos/desbotados na tela do tempo já fugidío.

Não é preciso canção para sonorizar as silentes desculpas/

culpas.

A linha se descosturou por ser tênue, se desalinhavou

do ponto de partida.

O trem do amor saiu estapafurdiamente dos trilhos,descarrilou.

Em um último eclipse misturaram-se sol e lua, nos (es)quadros

da relação a se despedaçar no infinito.

O riso já é tímido, as lágrimas teimosas,os passos lentamente

acelerados em sentido ao adeus.

As mãos de tantos afagos, jazem pendentes evitando o aceno

da partida, os braços/abraços/ enlaces...meros muros de proteção.

Mas peço que se vá de uma só vez, quando chegar a hora.

O tempo urge e nem sempre surgem forças para me enfrentar

em meus devaneios/desatinos/desesperos.

Pode ir, mas deixe a porta entreaberta, para que o vento

possa passear e a lua manchar com reflexos a paisagem fria.

Vá, atravesse o portão sem dó nem piedade.

Mas atenda por favor ao meu último pedido: recolha seu

sorriso da vitrine,pois minha dor estará na passarela da vida.

Márcia Barcelos.

Outubro de 1993.

Márcia Barcelos
Enviado por Márcia Barcelos em 01/07/2010
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