O POEMA

O Poema não precisa nascer. Apenas o considere possível algum dia perdido da tua referência. Não o escreva. Deixe tudo ao léu. Não mova os dedos ao teclado ao papel. Não seja escravo. Cubra com véu preto as teclas possíveis. Não ouça a razão. Não dê trela ao social. Fique de escanteio e sinta apenas uma coleção de ondas flutuar. Deixe a manhã passar. Oculte a tarde. Se isole da noite. Não seja a madrugada teu primeiro sopro do verso. Acaso se confirme um dia no acaso do acaso uma luz sem brilho aparente e um chamado sem voz audível pare de pensar e siga sem pressa. Acalme-se. O Poema não precisa acontecer hoje amanhã depois ou nunca. O Poema precisa SER. O Poema não é por tê-lo. O Poema é tão inesperado quanto a morte. O Poema é tão sorte quanto a tua vida. O Poema não pode estar antes do teu e seu tempos. Espera como quem não o espera e não quer tê-lo. O Poema não é tua glória fazê-lo. O Poema não é bem-vindo se não for fruto do TEU EXISTIR. Escusa o excesso. Exclui o inútil do agrado a outrem. Faça-o sem força de super-homem. Deixe-o liberto do homem e seu julgo. É necessário? Só tem vida o Poema se não for necessário no teu cotidiano. O Poema é reclusão. O Poema é silêncio. O Poema é escuridão. O Poema é invisível. O Poema é o nada nascido para ser essência. O Poema é longínquo. O Poema é sem pátria. O Poema não se faz. O Poema é ausência do real. O Poema é tudo! O Poema: este SER sem sentidos sem voz sem materialidade nascido quando Deus vê chegada a hora...

(Alexandre Tambelli, São Paulo, 30 de Junho de 2010 - 20:00h).