Essa nossa poesia cheira a mofo de século dezessete
Com esses seus rebuscamentos góticos pós-barroco
Vós todos que me ledes eu digo que me escuteis...
E tu que nem lês, eu te digo que penses ao menos
Que essa poesia tem sede e fome de realidade
Tem o frio de quem dorme sob as marquises
Olhares confusos de crianças que vendem balas
Tem a confusão mental de infâncias roubadas
Tem o grito final e não ouvido no calar da noite
Da vítima inocente que acaba de ser assassinada
Tem a volúpia do lucro incessante e do consumo
A voluptuosa necessidade de ter, ter, ter
Sem ser ou tentar ser ou pensar ser ou sentir
Essa poesia tem esse grito contido desses excluídos
Dessa turba amaldiçoada e sem vez e voz
Sem teto e sem chão, sem paz e sem pão
Essa poesia tem esse olhar entristecido
Essa poesia tem esse olhar esquecido
Esse olhar sofrido e não evitado
Esse olhar sempre para o lado...
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 29/06/2010
Reeditado em 06/08/2021
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