Soinho
SOINHO
Realmente parecia um sonho
Seus olhos eram tão azuis,
mas tão azuis da cor do mar,
que dava vontade de mergulhar dentro deles
E a Nona não cansava de dizer um só segundo:
-- Isso não existe! Isso é um sonho!
E por ser tão pequenininha
As pessoas a chamavam de soínho
Parecia um téquinho de gente
Gente não! Aquilo não era gente!
Aquilo era um téquinho de sonho
--Um soínho! -Insistia a Nona
E ela saia em disparada pelo corredor,
depois voltava morrendo de rir
e se atirava inocentemente ao colo da Nona
Só que em uma manhã cinzenta de outono
um anjo de plumas douradas
mergulhou no mar dos seus olhos azuis e,
sutilmente, sem que percebêssemos,
levou embora todos os nossos sonhos
E ali, aos prantos, junto daquele téquinho de gente
a nona não se cansava de dizer um só segundo:
--Eu não falei para vocês que ela não existia?
Ela era apenas um sonho!
Um sonho tão pequenininho que não durou quase nada!
Ela era apenas um soínho!