MENINO MUDO MENINO FALASTRÃO ou DA IMPOSSIBILIDADE DE SE DESAMAR O SONHO
Quando chegas mudo, com a funda tristeza do teu menino de quem, no caminho, arrancaram a voz e o poema que trazia, tudo o que eu queria era poder acolher-te, beijar teus olhos, abrir-te o meu corpo, inteiro, para o amor.
Quando chegas com o teu jeito de quem veio, pelo caminho, a revidar as provocações dos moleques de rua, tudo o que eu queria era poder aplicar-te umas boas palmadas, tal mãe à antiga a corrigir das travessuras desnecessárias o seu menino falastrão.
Não é fácil amar a Dom Quixote, eu vos garanto. Impossível desamá-lo, que não se desama o Sonho, para sempre vivo, vivo para sempre, sempre a viver para além de seus gestos, sempre a viver para além de seu rosto, sempre a viver para além do que é e para além do que não é, sempre a viver inteiro e pleno para além de si mesmo.
Impossível desamá-lo, ao Sonho. Impossível desamá-lo. Impossível.
Zuleika dos Reis, na madrugada de 25 de junho de 2010, na Capital de São Paulo, Brasil.