Até no fim do mundo
Há certas verdades inalteráveis, mesmo com o mais demorado intervalo de tempo. Imutáveis, duras ou propícias para a alma, haverão sempre.
• A verdade dói, é difícil escutar.
... da boca de quem amamos, pior ainda.
Preferimos mentiras confortáveis, que nos iludem, mas aquecem o canto mais sozinho da alma.
Preferimos esse fogo que não queima, mas que mata pouco a pouco, preenchendo-nos do fumo tóxico que nos altera os pulmões e termina por nos arruinar.
• O desprezo é destrutivo.
É a pior das ações, o pior causador de sofrimento, o pior debate calado.
Sempre preferi gritos a essa atitude sem reação.
Sempre preferi que me provocasses dor com uma "despedida".
Muito real.
Queremos sempre o que não temos possibilidade de possuir. No momento em que o alcançamos, passa a não nos ser nada.
É tudo bem melhor quando é resultado de luta. De sangue, saliva, transpiração.
Um amor sabe muito melhor quando envolve trabalho, dor, hesitações. Quando abrange comprometimento. É verdadeiro, melhor do que um amor platônico.
• O ser humano simpatiza com o sofrimento.
Gosta da dor sufocante que o leva ao choro, necessita dela.
É referente ao instinto. Sempre padeceu.
O sofrimento é uma dependência.
Como o tabaco, a coca, o whisky ao fim do dia.
Vicia e sempre viciará.
Provém da falta de êxito, do esgotamento, do amor. Das hesitações, da necessidade, do apetite.
A dor rodeia o mundo como uma atmosfera, densa, mas que jamais se permite perfurar por químicos. Não há um "buraco no estrato do sofrimento".
É impossível de penetrar.
Trata-se com esforço, desvelo, carinhos de quem nos quer bem. Mas, como uma doença venérea, um câncer maligno, não se cura. Permanece sempre em nós.
Há certas verdades constantes, estáveis. Duras ou propícias para a alma, haverão sempre.
Até no fim do mundo.