Átrium
A tristeza apenas como o pó
se acumulando pelos cantos
se amontoando pela casa, ultrapassando frestas
flutuando pelo ar, em partículas
sem direção dentro daquele cômodo lúgubre
abafado
fechado, escuro.
Iluminado apenas por uma luz difusa
quase inexistente nascendo de algum lugar indistinto.
O cheiro de madeira vindo do piso antigo,
tão antigo quanto os sonhos ali guardados,
sepultados,
toma conta do ambiente.
Já não se sabe mais das horas, o tempo perdeu suas contas,
contado de repente
nas contas soltas de um velho terço caído ao chão.
Expressão inexistente, de uma não dor,
de um não prazer
de um não sentir
e um quase não existir.
Existência que grita sua presença,nas teclas de um piano tocado a quatro mãos...
imaginárias.
O incenso queimando chega ao seu fim, brasa se extinguindo
resta o aroma no ar.
Nesse cômodo, quase anestesiado
vive então de silêncio.
Um arrastar de porta, rangendo, como se reclamasse seu cansaço,
faz com que o ar se agite, a poeira baile solta por uns instantes.
Algo mais adentra, se une ao todo, que ali se empilha
onde a poeira se acumula
e mais uma vez volta a repousar.