O verbo silencioso
Não aguardo um salvador divino nem governante infalível. Tento fazer aquilo que creio ser a minha parte neste processo em que a humanidade se debate. Contento-me em ser um ponto firme nesta malha para que não se rompam os fios já trabalhados .
As imagens que refletem estas tardes me encantam e me fazem silenciosa. Compartilho contigo este momento de plena emoção de estar viva. "Um amarelo sem sol e um branco sem lua". Não quero também as minha mãos vazias de outras mãos, meus olhos refletindo apenas, sem ver verdadeiramente. Queremos que a vida faça sentido e não se perca a essência das coisas fundamentais.
A vida se reflete nos teus olhos, meu filho, que são na verdade extensão dos meus e me confirmam ser humano apesar de tudo, apesar de todas as misérias em que nos debatemos. Em teus olhos de filho vejo o meu perdão , a minha verdade, a minha grandeza e pequenez, o meu verbo silencioso e terno que prescinde de justificativas e filosofias, que é somente sentimento, encanto, felicidade, todo o absurdo das contraditórias ações e toda a clareza de águas purificadoras. Em teus olhos de filho encontro a paz, a redenção, o mais profundo sentido de ser nesta malha infinita. Em teus olhos alcanço o universo e me torno tão pequena e aconchegada. Em teus olhos deslizo em viagens, estando meu corpo exatamente no mesmo lugar, sentada à beira desta nossa mesa, tomando nosso café e falando mais nas entrelinhas desses diálogos amorosos e reveladores.
Pois o que existe além das palavras é tão mais perene e intenso e belo. E quando a palavra chega, a nossa alma já leu muito além pois o que nossos lábios tentam explicar, os olhos, os gestos, os silêncios intensos já disseram muito mais e melhor.
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