ESTAÇÃO DAS ÁGUAS

Depois de longa estiagem, a chuva. Precipitação atmosférica que traduz o ato e o efeito da pressa irrefletida, da paixão que flui, brota, derrama e origina a fonte fadada a se dispersar em caminhos com as margens ressecadas de vivências. As estações de seca em que nos cerram açudes e represam a intensidade de ser mar, vazar e alagar os anseios em fluxos constantes.

Antes as lágrimas que brotam como lembranças das tempestades e anunciam a umidade. Pranto que sucede os ventos que trazem as águas e deixa no corpo o lamento derretido da última geada. Rios que irrompem e inundam os brotos dos olhares salientes, famintos, desérticos, e transportam primevos grãos que encasulam nos tempos serenos e despertam vôos borboletas sobre o lago espelho dos vales ensolarados.

Depois das águas, o cheiro de chuva, as poças e os passos, o som reticente que cai nas gotas de um relógio, os respingos na janela, o parapeito cerrado de fantasias, a lembrança molhada a envolver o corpo, o horizonte suspenso em neblina, a saudade...

Helena Sut
Enviado por Helena Sut em 05/09/2006
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