quando o amor acaba


As coisas do amor são maravilhosamente simples em sua complexidade. Múltiplas em sua unidade. Plurais em sua singularidade. São infinitas as formas de falar e viver o amor.       

Viver o amor nos deixa em estado de êxtase. Ele, o amor, tem o poder de nos tornar melhores. Dividir a vida com alguém que reconhecemos como nossa alma-gêmea é encontrar o caminho da felicidade.  

Mas, um dia você descobre que alguma coisa mudou. A corrente elétrica de seu corpo não vibra na mesma fase que a de sua, antes, cara metade. Não há mais sintonia no falar, sentir, no ouvir.


O olhar já não expressa aquele brilho intenso, o sorriso já não brota com naturalidade, o desejo adormece em algum lugar e você não sente o corpo queimando ao olhar uma foto, ouvir a voz ou tocar as coisas que contam a vida deste amor. Resta uma imensa ternura. Um carinhoso respeitoso. Onde antes havia paixão agora há apenas afeto. 


Não é o amor que acaba. O amor é infinito. Eterno. Supremo. Nós somos finitos, passageiros e incompletos. O amor pode tudo. Nós não. O amor é perfeito. Nós a imperfeição em sua plenitude. Na verdade, apenas deixamos de amar “aquela pessoa” em específico.

O que sentíamos mudou de forma. O amor sofreu uma metamorfose. Aquietou-se. Recolheu-se. Nem sempre deixamos de amar alguém porque passamos a amar outra pessoa. Isso, embora muito difundido, não é uma verdade universal, absoluta.


Amar alguém exige cuidados, disponibilidade, comprometimento, liberdade, vontade de eternizar a história, de ser feliz para sempre, mas o sempre, sempre (?) acaba; como dizia o poeta.


Muitas vezes, entretidos em garantir a futuro da relação, em transformá-la em uma grande e infinita história de amor, não cuidamos do presente. Com olhos voltados para o amanhã esquecemos o hoje, o agora. E, quando percebemos a relação começa a dar sinais de seu fim. Há indícios, setas apontando na direção de um inadiável adeus, mas nossos olhos, nem sempre querem ver o que o coração já percebeu.


Muitas vezes o silêncio fala das coisas que a boca não pronuncia. A ausência/presente anuncia o fim que ainda não foi proclamado em palavras. Afinal o fim de uma relação não envolve apenas os sentimentos. Terminar uma relação é muito mais que mudar de endereço.


Uma relação de amor quando acaba em vida deixa cicatrizes, seqüelas, lembranças não compartilhadas, desejos não vividos. Cada um se deixa ficar naquele que parte. Os corpos separam-se, mas fica o olhar tatuado na pele, o gosto do beijo que nunca mais será trocado, o abraço que não acolherá os sonhos ainda não vividos.

Fica uma lágrima risonha presa nos lábios, já umedecidos de saudade, um sorriso desbotado no olhar que se perde no infinito. O adeus, muitas vezes, apenas termina a relação, mas não consegue terminar a história, estas parecem que são infinitas, eternas, mesmo depois do fim.


Quando o amor acaba é preciso partir enquanto há respeito, enquanto as mágoas não afloram, despertando o monstro da desconfiança, do ressentimento. Antes que o vazio do fim seja preenchido por palavras duras, frases amargas. Antes que aquela dorzinha que sai pelos olhos se transforme em raiva e destrua tudo de bom que foi vivido, compartilhado.


O fim de um amor deve ser como o último ato de uma maravilhosa peça, ao fechar-se da cortina fica a beleza presa em nosso olhar, em nosso sentir, mas sabemos que se voltarmos para assistir a mesma peça as sensações não serão mais mesmas.


Quando o fim é provocado pela morte há uma dor que não cabe em palavras. 






 
 
Ângela M Rodrigues O P Gurgel
Enviado por Ângela M Rodrigues O P Gurgel em 20/06/2010
Reeditado em 20/06/2010
Código do texto: T2330832
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