CEGUEIRA COLETIVA

E a multidão sem eira nem beira caminha

Tateando as paredes de prédios decaídos

Denuncia a morte da cidade e seus habitantes.

Será o fim tão esperado e ao mesmo tempo temido

Que fez daquelas pessoas zumbis em plena luz do dia?

É o retrocesso há um tempo já vivido

E superado pela ciência novos tempos

O progresso que aprisiona e transforma

O homu heretus em homu machina.

Nada superou o progresso

Nada fez do Homem senhor de si

E as religiões o ópio nos templos enaltecido

Trouxe o conforto e a esperança pelo paraíso.

É a cegueira coletiva aos irmãos que sofrem

Não lhes dão a atenção porque aquilo não interessa

Sua desgraça é seu problema e sua sina

E em nome de Deus viram as costas

E nos templos cantam salmos e hinos

E saem de alma lavada para mais um dia.

A espera do coletivo saturado de pobres trabalhadores

Nada se lhes reconhece a mais do que o mínimo

E a cesta comprada a preço alto e sempre subindo

Não fornece as energias em suor consumidas.

E o moribundo nas calçadas e viadutos

Juntos a outros e crianças também

Entorpecidos de propagandas e fora do possível

Engrossam as estatísticas oficiais e nada críveis

Porque a olho nu nas ruas e avenidas

São invisíveis às autoridades nos gabinetes.

E o habitante da cidade que se decompõe dia a dia

Numa epidêmica cegueira sutilmente assimilada

Vai à loja e compra outra grife

E feliz por pertencer a seleto grupo

Vive de bem consigo e seus iguais.

E como um ciclo vicioso

A história se repetirá e assim sucessivamente.