Meu amor virá?
O Tempo traça os rumos e os instantes do nosso amor
Estende suas mãos eternas e roça sutilmente a face serena do meu amor por você
O tempo paira sobre tudo o que é e o que há de ser
Traz de muito, muito, muito longe estrelas para vigiar as nossas noites
Para encantar românticos, para acender poetas, para orientar os notívagos
O Tempo acontece
Em noites insones, quando a vida espreita à espera do sono,
eu, abstraído e ouvinte, olho a estrela que passa
A estrela que passa, passa leve e lentamente
Há um silêncio imóvel enquanto a estrela passa
Há um silêncio só dela
Que vem de muito, muito longe... Longe demais
Há um tempo só dela.
São anos, muitos anos... Anos que não acabam mais
Um tempo que não é o meu, que não é o seu.
É o tempo infindo das estrelas
Um tempo que dormita
Enquanto olhinhos perscrutam os céus há bilhões de anos
Olhos que olham pra nós como quem sabe histórias.
Então, eu lhes pergunto: que é do meu amor hoje?
Por onde anda a dona dos olhos de anil?
Por onde andam meus sonhos que enviei para que a procurassem?
E que a trouxessem para que os meus beijos pudessem, então, dormir em seu colo alvo
Num sonho, numa canção, quem sabe num cismar da Alma, pode o meu amor voltar para mim
No céu escolho a estrela flamejante, solerte e que me olha como quem sabe um segredo a mais que as outras
Ergo os olhos e no silêncio que se junta a minha saudade pergunto-lhe sobre o meu amor
Meu amor virá?
Meu amor virá como todas as noites vem.. e me pega... e me beija ... e me tem... e já sou todo mundo e já não sou ninguém?
Meu amor virá?
Meu amor, na noite que dorme, sonha os sonhos que viverá durante o dia
Meu amor virá?
Meu amor é linda
Virá desnuda, eu sei
No seu corpo somente a poesia
Que ainda escreverei
Meu amor virá quando eu estiver distraído
Quando eu menos esperar
E, então, eu direi do meu amor a ela
Direi coisas do luar
Coisas que aprendi olhando estrelas
Enquanto o céu passeia experimentando os brilhos que cada estrela lhe dá
As noites passam tão lentas quando o amor está distante
E as estrelinhas no céu discutem a cada instante
Como fazer pra juntar o amado à sua amante
O Tempo enternece
Nos olhos da distância avista-se a saudade
Em meio ao amor, que se sabia longe, verteu em suas fontes a tristeza insensível e torpe
O Tempo há de ser o ventre que acolherá esta tristeza que sob a minha alma paira
Secará a lágrima do pranto insuspeito que sob meus olhos se abrigou
Diante do espanto das vozes da vida transformará em nostalgia o pranto derramado
E da nostalgia ainda virá o dia em que se abrirá em flores, contando ao vento todos os momentos, todos os amores, nos quais um dia foi dor
E sanada a dor, meu amor virá?
A noite não responde
O dia se esconde nos beirais dos campanários
Minha alma, na angústia fria em face da angústia, pergunta aos senhores do tempo, aos senhores dos sonhos, aos senhores dos mistérios:
Meu amor virá?
A pergunta atravessa a Luz e o Destino e reverbera em um tempo que não tem agora
O Tempo envelhece