FOTOGRAMA DE UM FRAGMENTO HISTÓRICO
E aqueles que mandam com seus machados à mão
Não se importam a dor que causam e riem
Nos subterrâneos do poder que corrompe e os tornam
Torpes seres, ignóbios e tirânicos compostados
E arrogantes senhores acima da lei e usurpadores dos direitos.
Nada lhes comove porque o sangue não corre às suas veias
E seres frios de sentimentos ignoram os males que a tantos causam
Confortados nos gabinetes alheios ao que na rua se passa
Ficam à espreita nas janelas soturnamente escondidos.
E a plebe que anos a fio fora ludibriada
Cansada e indignada com vergonhosa compostura
Da insígnia autoridade que desonrara o trono
Já não se amedronta frente à pretoriana guarda
Põe-se a caminho do front como quem vai à última batalha.
Transcorrido o embate e a Bastilha pela plebe tomada
E superado o medo das armas que se sabia o outro deter
Não se entregaram porque outros tantos com eles estavam
E imbuídos do mesmo desejo em vencer tamanha arrogância
Venceram o frio que a natureza trazia e lá ficaram até o nascer do dia.
E aquele que subestimou o povo e seus direitos
Já sem força recorreu aos nefastos mecanismos
Dos ditadores que acham que tudo podem
Ordena que gradis às portas sejam colocados.
E o povo que sabe dos seus direitos e por eles às ruas foi
Não retrocede na vontade de lutar por dias melhores
E a notícia que de boca a boca correu
Trouxe à praça outros tantos para juntos ali ficarem.
E o tirano que desconhecia tamanha união
Como um rei sem povo no castelo fica
Mal sabe ele que o poder é efêmero como a vida
E quando já tiver cumprido sua jornada
Deixará aos que se seguirão
Apenas a certeza que desonrara o trono ocupado.
E o povo que um dia enfrentou o tirano e seus asseclas
Como uma semente que à terra fora jogada e germinou
Viu o fruto da resistência em outros tantos se multiplicarem.
Assim acontece quando se tem como objetivo um direito
E mesmo que passem anos ou mesmo séculos
Ficará sempre a lição exaustivamente empenhada
Que sempre vale a pena a luta e não abaixar a cabeça.