EROS, O CAMINHO
Ainda em mim a mesma flor, o inusitado que eletricamente me chama. E nada é mais bonito, eis que a canção é tudo. Chove dentro de mim a antiga silhueta, a muda de semente e fogo. Está prenhe a inquietude em meu sol aparentemente pleno de tudo.
Cervejas e phallos sabem dos desatinos eróticos. Nada de desafios em que me planta a emoção. Volto às esquinas sonhando vênus e rios, o riso fácil com quem bebo. Sei do que contam desejos e guardanapos em tua face marota. Há a menina além das retinas em cada toque, em cada gesto.
Subtraio-me a cada vez que me funde a cuca. Traduz-se o verso movido a emoção. Sei de mim como o traste de fazer da palavra o uso que já nem sabemos. O corpo freme como da vez primeira e sou marujo na verga dum frágil barco.
Ainda não sei do perfume que sobe ao olfato, mas a aliança na mão do destino confidencia a noite, a gávea frágil dos ventos em que me perco, albatroz e foz do gozo. Nada sabe o verso, apenas a mão em teu umbigo desejoso, que resguarda a musa, seus dengos e mitos.
A carruagem tem cavalos alados e monto o destino como um cata-vento de açúcares. Espero a chave de teus pudores para que me craves a emoção de prata. Amanhã nascerá o dia e já seremos unos.
Molha-me a chuva imaginária e voltam os mesmos desenhos no canto da boca.
Trago uma flor cerrada nos dentes.
– Do livro OVO DE COLOMBO. Porto Alegre: Alcance, 2005, p. 19.
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