[Para Ter a Liberdade Essencial]
Pensar nunca é inútil, é apenas inevitável; e se nada chega à fala, esta formulação sempre frustrada do pensamento, então o mundo foi salvo de mais um resíduo... Mas da solidão em que o pensamento por vezes se encerra, até a fala inútil, vai apenas um passo...
E isto por que estou a pensar na frase de Dostoievsky - "Haverá toda a liberdade quando for indiferente viver ou não viver. Eis o objetivo de tudo". E mais: "aquele que desejar a liberdade essencial, deve atrever a matar-se".
Parece-me óbvio [ou Kiríllov é mesmo louco, como conclui o narrador de “Os Demônios”, o senhor G-v] que não se trata da morte física, mas da morte para certas coisas, para as cadeias das circunstâncias... para o mundo ao redor... para ideias, dogmas... ou nem atino de que sentido de morte se trata — sou rude assim, sei nada!
Eu, aquele a quem, não Deus, mas a morte atormenta desde os cinco anos de idade... mas qual morte me atormenta desde sempre? E por que morro de não saber, eu vendo barato, bacia das almas, o meu escasso viver...
E o que você acha, leitor? Que morte é essa que nos restituiria a liberdade essencial? E a Razão pergunta: o que é "essencial"? Mais palavras...
[Penas do Desterro, 17 de junho de 2010]