Derradeiro Suspiro...
Sente a vida pulsando nas veias, o sangue galopa
com força e instinto pelas artérias.
Estar viva é para ela um mérito, afinal acreditou
que de tanto amar morreria.
Mas de quanto morrer, amou e foi intensa/plena
extensa.
Na doação, se doeu e viu a vida cavalgar nas asas
do tempo corcel alado da existência que leva os dias sem
dó nem piedade.
Sem destino...
A vida que faz/desfaz,constrói/destrói/destroça e
passa. Passa ora a passos lentos e preguiçosos/despretensiosos
ora em correria desenfreada, quase brutal em sua pressa.
Vai para onde?
Vai como?
Como vai chegar ( se é que vai vir) o outro dia?
De dores e amores, as cinzas do vulcão da vida
vão se espalhando, enegrecendo o firmamento, entupindo
a aorta, fechando a porta da alma silente/ lacrada de
tanto calar/ gritar/gemer/suplicar/ sussurar.
Na moldura do tempo lembranças descoloridas de
olhares que buscavam a mesma direção, alvo em comum,
algo de presente e quem sabe insolente com aspiração
de ser futuro.
Expirou...
... expirou - se o sorriso, o brilho do olhar, o futuro
daquele passado presente, aqui jaz.
Aquele futuro morreu recém nato.
O amor se esvaiu por entre os versos/goles/golpes
beijos e acenos de mãos.
O amor deixou de amar e foi chorar/machucar/recordar.
Será que um dia vai recomeçar?
O amor é um papel em branco, tal qual a vida, onde
escrevemos, desenhamos, manchamos ou apenas borramos
sua folha/ seus dias com recordações/ saudades...
... e vemos em sua face pálida a marca de uma única
lágrima que não pode se conter: o adeus.
A vida se transmutou um derradeiro suspiro,
um breve aceno e uma eterna saudade.
Márcia Barcelos.
21/05/1994.