Entre rio e garças...
Sobre aquele dia não há muito o que dizer. Quem além de mim para lembrar! Apenas um banco de praça, desbotado, esquecido em beira de rio. Um aparato para intervalo. Um pouco entediado de tanto ver garça. Uma manhã de abril.
Ele tinha uma sobriedade lírica com uma tarja na fronte;
– aqui sou das levezas. Talvez até se tratasse de um disfarce. Dissimular inquietação Nunca se sabe do que é capaz um menino tardio.
O dia a trouxe como se viesse por um chamado. Ela vinha com cansaço, um desânimo, coisa de inverno triste e frio. O que a fazia vacilante, ele não pode adivinhar. Mas que boa a presença mesmo que vinda por caminhar tão arredio.
Sentou-se ao lado dele e como não dizia palavra, ele depois de se demorar explorando-lhe a face pálida, disse: “um dia ainda beijo essa boca”.
Foi instante de grande susto. Como fora revelar-se assim, ele que gostava de se pensar ‘um lúcido’. - Entregara a ela a voz do coração!?.
“Um dia deixo que me beije a boca” - Escutou a frase e colheu imediatamente. Na visão do rio está o instante como imagem fixa em espelho permanente. E abotoou-lhe o beijo sobre lábios. Risonha e ofegante. Ela com ternura se aninhou entre seus abraços.
Foi quando descobri: dos poros dessas crianças, morenas ou pálidas, brotam floricas com arrepio. Mas essas coisas só acontecem se o rio da fábula souber brincar de garça.