Testamento
Hoje, na minha lucidez.
Entendo e reconheço a data certa
Talvez os sentidos
Vou formular minha partilha
Quero distribuir todos os meus bens
Meus sorrisos guardados, muitos
Por poucos, ainda não assistidos
Deixo aos amigos queridos
Antes que não me reste mais tempo
Para quem quiser ofertar
Para quem for preciso
Doarei meus abraços
Pra servir de cobertor
Depois que o frio bater
Com saudade do meu calor
Deixarei plantado pelos caminhos
Por onde passei
Palavras de carinho
Outras que nem sei
Irá constar em testamento
Relatos dos meus bons momentos
Vou deixar minha vida
Contada em versos
Deixo meu coração, minha ilha.
Em meu peito de paixão emanada
Faço em vida uma exata divisão
Eu podia viver ainda outros amores
Dilatando minha alma em flores
Adormecendo o sol da primavera
Congelando os oceanos no inverno
Pálido outono da minha saudade
Contudo nos luares do verão
Chega a noite a embalar minha verdade
Por mais longa a vida é curta
Nesta existência faltaram-me momentos
Delirantes entre noites estreladas de sonhos
Sinto desfolhados os dias de glorias
Entre nuvens escuras no final da tarde
Reclina embalsamada lua
Adormecida se perfuma e dorme
Sejam meus olhos, quando as janelas se fecharem.
Sejam meus passos quando os meus silenciarem
Seja minha voz quando as suas ecoarem
Sejam meus vícios, quando seu amor for vitalício.
Num instante de enlevo e de ternura
Onde os céus azulam
Testemunho a meia noite
Sobre o colo da minha amada
O prazer do amor insano
Embalando minha derradeira
Madrugada
Desconhecendo o poeta
Reconheço a poesia
Aceito por promessa
Do amor que não mentia
Amanha estarei distante
Hoje a dor da vida ainda me devora
Devo anunciar.
Amei até quem não podia amar
Torno notório a todos
Não sou louco
Apenas tenho sono
Preciso dormir um pouco
Antes que eu esqueça
Sua própria essência
Serei melhor, pensei em ser livre.
Em minha cabeça firme
Minha mente, a mim não mente.
Meu amor não finge.
Marcio Oliveira
13*04*2010