O MEU SONHO FOI UM PISCAR-DE-OLHOS...

Há muito tempo por aqui apareci olhando montanhas, sanhaços, pintassilgos, beija-flores beijando bem-te-vis, despencando de penhascos regorjeando louvores. A pradaria murmurando o vergel-lilás de suas flores. Era o lugar que sonhava para os meus amores. Então nada mais me faltava... E foi ali que escolhi. O meu alvorecer era em cores, a chuva me iluminava, o sol me inspirava destilando deliciosos licores. No conforto informal, no desejo de mais um mortal... No crepuscular das tardes de magia, embriagado ao tom do doirado som a acariciar meus ouvidos, qual a todos os lados naqueles dias a mim consagrados... Tudo e a todos tingia. Nesse mel de melaço, no mais puro regaço que no profundo de minh’alma regava, e me fundia em alegria. Foram belos os meus dias os quais minha mente arejava. À rede me embalavam as noites calmas, meus pensamentos voavam em nuvens alvas. O meu espírito se projetava além de coisas humanas. Nas longas tardes de frescor-rupestre dos fins de semana, ”muito além de Trapobana”, aliás, estava pra lá de “Pasárgada, onde eu era amigo do rei” e assim, muitas vezes, pensei: “Jamais escolherei qualquer mulher, pois, muito além dessa eu já tinha, mesmo sendo amigo do rei”, com certeza de tanta beleza, e convicto de que não a merecia, por isso foi que não errei!

Foi aí que compreendi: sou um privilegiado; e o meu lar construi dependurado no topo de um monte encantado, porém, alicerçado com cascalho dali. Belos e floridos jardins, com melífluo odor de jasmim. Em cima do vale, com minha visão deslumbrada. Minha família; presença marcada. Parece ter sido ontem... O tempo passou ligeiro e neste comboio fui passageiro. Meus filhos se casaram, meus netos se foram... A minha companheira de tantos janeiros a partir foi à derradeira, mas partiu pra valer, enfim, o meu coração se partiu por inteiro. Restou-me a oração, pássaros e a canção do meu velho travesseiro enfronhado de emoção. Confessor e confessionário neste esplêndido cenário passo o tempo a escrever com alegria e prazer, como se fora mais um otário teimando em reviver. Não sou hipócrita em meus apócrifos... E não quero me enganar. Aprendi a ver a vida em sua plenitude, encaneci com saúde e não posso reclamar. Partida é partida... A existência é efêmera e, nem posso chorar. Chegamos-voltando à frente de câmeras registrando os relatos, de fato; relatando os fatos. Alcovitamos em nossas câmaras, regurgitamos desagravos ao nosso Criador e Pai. Melhor nos fora juntar os favos da gloriosa e eterna Paz, do que os trapos que o mal sempre nos traz.

Caro irmão-leitor pense como for, mas, por favor, não tenha pudor dessa falsa dor com pavor. Nem seja acre, do seu coração tire o lacre, e no amor seja craque sem o menor palor.

É a realidade da vida, flor em botão qual murcha dando-nos o seu tom chamando-nos à atenção. Qual à bucha, com água e sabão, no banho é algo estranho, verdadeiro estrebucho no antigo corpo de um bruxo. Às vezes velho-tacanho aos olhos de estranho. Pode ser, mas não é se ele sabe o que a vida é! Pois, fez-se amigo de tudo e até da boa solidão, na realidade é sortudo, meu caro-querido irmão, ele enxerga até pelo pé sendo provecto ancião...

A solidão pode ser o desespero ou o tempero de se encontrar com o “Eu” por inteiro. “As aparências enganam”. A solidão pode ser uma ótima companheira. Essa amiga vem para burilar a nossa alma dando-nos a condição de vencermos a nós mesmos, já que o nosso maior inimigo está no interior do nosso coração o qual deve ser cinzelado com o amor da mansidão no universo dessa eterna imensidão...

Na realidade o meu coração mora nos universos dos universos juntamente com o seu...

Esta historieta faz parte da vida deste modesto amanuense...

Muita paz e amor à sua pseudossolidão...

jbcampos
Enviado por jbcampos em 11/06/2010
Reeditado em 17/06/2010
Código do texto: T2314593
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