NÃO MAIS
lisieux
Não mais o mesmo beijo. Diferente, frouxo, bambo, este que trocamos. Apenas pró-forma. Apenas ritual, tantas vezes repetido.
Não mais o mesmo fogo, a mesma paixão, o mesmo delírio, labaredas e vulcões brotando em nossas bocas e se alastrando como fogueira em mato seco. Secas agora as bocas, seca a saliva, lábios-papel sendo riscados pelo lápis vermelho de final de liquidação: "Quem dá menos?"
Não mais as minhas mãos em ti, tateando mistérios, escavando poços à procura d’água. Não mais as tuas mãos em mim, semeando miosótis, explodindo lilases, rebentando botões... Agora tão somente o tato ocasional, palmilhando territórios já bem conhecidos...
E sinto as mãos como se fossem travas, trancando portas, colocando avisos de "aluga-se", ou "fechado para reformas".
Não mais... não mais o meu assombro diante do teu corpo, da tua adaga em riste. Não mais o teu sorriso diante dos meus seios desnudos e o gosto meu néctar em tua boca...
Agora tão somente o vai-vém mecânico, lubrificação da máquina a fim de que não enferruje.
Pensei chorar, mas a lágrima recusou-se a sair, a tomar parte neste final de ato, final de cena, final de caso.
Não mais nós dois...
Apenas tu e eu, no estertorar do amor.
BH - 19.11.03