Carlos Sena                                 



SEU PREGENTE SOU EU!

Poderia dizer que "o meu amor tem um jeito manso que é só seu"... Ou que "de tudo ao meu amor serei atento"... Talvez eu dissesse que ele tem que ser mesmo infinito, mas dói a possibilidade do 'enquanto dure'... “Continuo dizendo que, embora consciente da rima dura do amor e dor, só ele constrói; só ele nos faz permanente em nossa transitoriedade; só ele ‘invade e fim”. O amor é a única esperança do homem sobre as adversidades;

No retomar do meu amor e do seu jeito manso, não me canso de sabê-lo em sua forma de amar perene, suave. Ele não sabe das minhas coisas a seu respeito, pela possibilidade que intuo no sentido de que 'tudo possa se gastar depois de revelado'. Ele, o meu amor, me define por dentro sem que por dentro dele isto seja verdade absoluta. Pequenas coisas nossas, COMO DORMIR DE CONCHINHA são dos dois - cada uma na dimensão do sentimento absoluto que a tudo pode relativisar; cada ausência para além de um quilômetro pode me ANGUSTIAR como se para Europa ele fosse; da mesma forma que, DE FATO, indo para distante a gente não canse de ter saudades. O ruim dessa tal saudade é quando ela cansa por si mesma. Contudo, enquanto ela se renova em cada manhã solitária, a gente pode se agarrar no cheiro dos lençóis, na encenação interior da rotina que se repete em cada novo dia. Até mesmo nas manias, a gente pode fazer um viés de refrigério, enquanto o amor da gente não chega.

O meu amor é singular. O meu jeito de amar e o dele de me querer são plurais. Nesse dilema entranhado de quereres, nossos entardeceres se amenizam, nossas asperezas são atenuadas.
Prefiro falar do meu amor como se perfeito fosse. Prefiro sempre que posso surpreendê-lo fugindo um pouco da rotina. Se eu canto uma canção, desafinar não lhe desanima. A linguagem das intenções funciona entre os que se amam de verdade. Não nos sentimos obrigados ao socialmente estabelecido como regra. Entre nós há leis feitas por nós, há gestos feitos por nós, há efeitos de olhares feitos por nós. 

Lá fora eu não persigo suas pegadas. Ao amor de verdade não se cabe desconfiança – o  tom das nossas palavras nos mantém vivos, unidos, ungidos pelo que construímos do dia-a-dia com se fosse “nossa igreja, nossa Ave-Maria”...
'O meu amor tem um jeito manso que é só seu'... Por isto seu PRESENTE sou eu com todas as minhas possibilidades de agito e rebuliço, pelo desejo de um amor infinito, mesmo que seja "enquanto dure"...