Razão & Coração

Razão & Coração

Em nossas vidas, pessoas, surgem assim do nada. Surgem, simplesmente surgem, e se instalam, sem perguntarem, sem se apresentarem, dos nossos sentimentos as rédeas vão tomando, a razão nos tirando, o pé do chão vai saindo, os pensamentos um turbilhão, emoções sem controle, medo, confusão, insegurança, medo de crer nas palavras ditas, com carinho, gentileza, baixinho, meigas carregadas de amor.

Noite, noite fria, gelada, a alma agitada, tantos sentimentos, emoções, sensações, que à tempos acreditava, a sete chaves ter em meu coração trancado, mil cadeados colocados, assim todos arrebentados. Vontade de viver, reviver emoções sentidas, vontade da entrega total. Vontade de amar e ser amada, sem reservas, sem restrições, viver, viver intensamente uma paixão. Será realidade, será ilusão, mais uma que se acrescenta ao rol de tantas, já pela vida vivida, desfeitas, despedaçadas, ao vento espalhadas?

Dúvida, dúvida imensa, medo desesperador de acreditar e sair magoada, ferida, desiludida, dores novas a superar, a se acrescentarem às antigas, mais cicatrizes da vida, juntar novamente cacos e seguir em frente, mais uma vez do chão se erguer e aos tropeções caminhar, redescobrindo novos caminhos a trilhar.

Alma solitária cada vez mais descrente, da verdade, da amizade, do amor que nos fala o criador, da solidariedade, do ombro amigo que acolhe num abraço, que ampara, nossas lágrimas enxuga, nossos medos espanta e a nosso lado caminha. Medo de encontrar pela estrada da vida, nesta jornada difícil, falsidade, dissimulação a se aproveitar de momentos de angústia e dor, situações de carência extrema e das interiores fragilidades.Medo de um futuro incerto, de erros e desditas, de mais débitos para outra vida, no futuro a ser vivida, acrescentar, e depois pela frente mais desventura encontrar.

Acostumada a tanta rejeição, falsas promessas e juras vãs, no ser humano, já quase não acredito, vendo tanta mentira, tanto engano e maldade, escondida sob máscaras de polidez e educação, em nome do amor.

Hoje enfrento batalha aterradora, a razão me diz que cuidados devo tomar, pensar, refletir, analisar com discernimento e ponderação. Há! A razão, companheira de todas as horas, que problemas e sofrimentos evita, às vezes dela nos esquecemos, nos descuidamos, esquecemos de que ela existe e conseqüências desastrosas nos esperam então a frente. Na ânsia de encontrar a tão falada felicidade, só encontramos frustrações e desalento.

No entanto o coração, este eterno intrometido, fala mais alto, briga, esperneia, contra a razão se coloca altivo e persistente. Ele, ele sempre acredita que o amor é bem precioso, dádiva divina, que aos sofredores ilumina, enriquece a alma e dos aflitos é o consolo, que mesmo em meio a tantos percalços, mentiras, traições, a alma humana ilumina com carinho e abnegação.

Dilema atrós, a quem obedecer, a qual dos dois dar atenção?

Deixando a razão comandar, será vida vivida, vazia, sem vida sem emoção, sem risco e preocupação. Viver, levando a vida num eterno dia após dia, numa mesmice, até o fim dos dias desta jornada de expiação. Esquecendo de ver as belezas, evitando as tristezas, do próximo se isolando, esquecendo que vida só é vivida em comunhão.

Se for o coração, os riscos, estes sim dão sentido ao viver, vida em plenitude, um olhar diferente, iluminado pelas bênçãos do criador, doação em abundância, amizade irrestrita solidariedade para com o semelhante, respeito a todos que nos rodeiam, alegria para amparar os aflitos, sorriso que ilumine a alma, como sol resplandecente, que sua luz irradia, e a todos ao redor acaricia.

Quão difícil é buscar esta tal felicidade, juntar estes dois rivais, numa mesma sintonia, viver as emoções do coração, sem sair da razão, sem seguir impulsos de momento, instintos, que em nosso inconsciente, escondidos, ainda guardamos, que nos levam depois a sensações de vazio e erro, que o sono nos tira, não nos dá paz a consciência, por agir contra princípios tão carinhosamente cultivados, dentro da ética e da moral, que aprendida foi desde a infância , dentro da filosofia religiosa, do livre arbítrio, que nos diz que tudo podemos, mas nem tudo nos convém.