Seis meses
Foi assim...
Chegastes um passo antes do verão.
Um céu sem nuvens no final da primavera.
Um sonho casto pronto para desabrochar.
Eras o amor que a vida me guardou? Quem dera.
Talvez o amor que da vida eu aguardei? Quem sabe?
Viestes nua dos teus medos.
Linda e singela.
Quem é a moça debruçada na janela,
Que ainda não sabe que é a meiga namorada,
Do amor que se exilou em algum momento meu,
Encenando o papel de solidão,
Diante da flor que lhe servia de platéia.
A moça da janela és tu.
És tu o amor que veio nos enleios da primavera.
Novembro, a brincar com os primeiros dias de dezembro.
Quase verão,
Quase canção,
Toda paixão.
Ah! Este amor que me entregou a luz do dia.
Que encobriu com risos a minha timidez.
Trouxe, no azul dos olhos, a candura do mar sereno.
No vento veio, ao longo dos nossos dias,
Silêncios, de solidão,
Segredos, de melancolia,
Saudades, de quem espera.
O teu amor nasceu da flor da poesia.
Deu-me os lábios para eu entender a solidão.
Fechou os olhos, como o verso acabado, e entregou-me o corpo enquanto a tarde se esvaia.
Deu-me a alvura da pele para eu amar.
Deu-me instantes com os quais eu burlo as noites nas quais a vida é fria e enevoada saudade.
Disse à minha alma algum sentimento para eu cuidar.
Disse o adeus dentro do momento em que eu te amava.
Do adeus desfiou estrelas e da cintilação fez terras e mares.
E o adeus rabiscou em mim a lágrima informe, aguardando diante do reposteiro da tênue sensação que separa o efêmero do eterno.
Vida minha, nosso amor é estes encontros e estas despedidas, como mãos que se enlaçam e se separam antes que o contato as enterneçam.
Foram tantos os dias em que olhei um céu vazio onde a tua ausência me dizias que virias.
E todos os dias a luz do sol vinha ver de perto nosso amor que amando esquece as horas, e é eterno, e é sempre amanhecer.
Olha, amor, nosso gostar é este jeito sem sentido onde a vida achou por bem nos separar.
E colocou as horas pra cuidar dos nossos dias.
São horas frias,
São secas horas,
São muitos dias,
Feitos de agoras.
Há momentos em que a saudade não me esquece.
Me arrasto a falar de ti para o dia que se esvaece impunimente.
Deito ao catre a voz indizível do meu lamento.
Sussurro segredos para a noite, amiga fiel de confidências.
A noite, receptiva e insone, queda-se a meu lado e me ouve como quem não tem mais nada a fazer, nenhum lugar a ir, nenhum compromisso a cumprir, a não ser o de encantar e de ouvir os ébrios de paixão.
Nas noites silentes os astros se elevam e se escondem, num ritual místico e dramático.
As horas são longos cordéis atados à marionete na qual se suspende a vida.
Cada momento é orquestrado em ritos longos a se sucederem uns aos outros.
E destes ritos, destes dramas, destes cordéis, nascem as manhãs prenhes das noites.
Escorrem os dias como a vela que queima iluminando o mistério.
O tempo age, o tempo é fogo, o tempo arde-se, o tempo há de ser.
Quando partistes meus olhos te olharam, silenciosos, no dormente adeus que calou-se em mim, assim como calou-se a vida que nada fez ao te ver partir.
Nosso amor é assim... um tanto de aconchego, outro tanto de um lento abraço, e esta ausência, esta fuga, este nada, que permeiam o soluço sufocado do partir sem nem chegar.
Da hora calada e túmida fez-se o adeus.
Do adeus fez-se a ausência
Da ausência fez-se o cansaço.
E no frêmito das horas e no arrepio dos dias, enquanto as manhãs e as tardes acendem e apagam o sol, eu aguardo a tua volta.
Agora, amor, tu vens me ver.
Tu virás...
É certo que tu virás.
E o meu amor se encantará do teu ao ouvir teus sonhos vindo em direção aos meus.
Eu me perderei em teus braços de saudades.
O beijo namorando a tua chegada.
O beijo esperará...
... o sussurro a murmurar amores...
... o meu olhar ao teu se dar.
O teu olhar, amor... O teu olhar é discorrer encantos.
Sonhos azuis a confundirem-se com os céus.
Teus olhos são mares que me enlevam, que me invadem e, náufrago de amor, já não posso mais pensar.
Apenas sinto, apenas anseio, apenas amo.
O beijo, enfim, enlaçará meu sentimento ao teu.
Perfumará nossas almas e elas, eternas como a poesia, guardarão o perfume intenso da avidez nos nossos lábios...
Carícia plena,
Carícia apenas,
Carícia.
Guardarão em si a capacidade de dizer a poesia que se escreve em nossos lábios.
Meu amor, nos dias em que ficastes longe de mim, andei por ermos caminhos, a rondar vazias paragens.
E os dias misturaram-se ao gosto do vento molhado pela tristeza que vinha do mar.
A saudade conta os dias que falta para voltares.
Conta e joga ao leito dos riachos que os esquecem nos grotões das matas.
Os dias que conto são os dias nos quais te amei, os dias nos quais te amo no inescrutável sentido do que é amar.
Não importa quantos dias faltam.
Não importa, amor, não importa.
Eu te amei em todos os instantes, dia após dia.
Te amo, desde o nascer do nosso sentimento.
Te amo, até o mais breve momento.
Em que este sentimento se entrega à poesia.
São seis meses, amozinho, nos quais a poesia fala do nosso amor. Neste tempo, amor, muita saudade. Algumas noites em que o povo todo vem para brincar. Folguedos de amor, de fantasia, de sonho. E nos sonhos, vidinha, a vida cega. A vida é terra, o sonho é ar. O sonho tá na dança que te leva. Tá na lembrança do perfume que vem nos contando doces histórias. O sonho dá a mão à fantasia e, então, nada é impossível.
Amozinho, você é meu sonho, minha fantasia, o amor que cria a luz do meu dia, a saudade que acende as estrelas nas minhas noites. Você é meu “A” e meu “B” com os quais eu tento escrever poesia pra você. Você é meu torrão de açúcar, meu sorvete de cajá. Você é meu pão quentinho, gotoso pra namorar. Você é a flor que dança nos compassos de um bolero... Amor, eu também quero! Vidinha, te amar é tão fácil. Difícil é te amar e não te ter. Seis meses, amor, seis meses... Enquanto os astros lá fora estão criando mais um dia. E eu vou te amar, vou te amar, vou te amar... Amor, um dia eu pego uma estrela linda só pra você. E junto com a estrela vou te dar meu amô gandão. As estrelas dormem sós, vidinha. E deve ser muito triste dormir só. As estrelinhas pequeninas dormem sós, mas não têm medo da escuridão. Quando chove, amor meu, são as estrelinhas fazendo xixi na cabeça da gente. As estrelas explicam as noites. Há dentro das noites um céu negro e o silêncio irrequieto que vem desde o tempo da criação. E neste céu, onde habitam Deus e os astros, também mora a solidão. A solidão inerente ao ser humano. A solidão que conta estrelas no meio da multidão. Meu grande amor, te amo tanto e tanto e mais... Te amo, e te amar é esta eloqüente sensação que me fala de você esteja eu onde estiver. Amor, estes seis meses em que nos demos, nos quais nos pensamos, nos quais nos sonhamos, se contou em fantasia, se contou na unidade abstrata e eterna que é o tempo da poesia.