[Da Espessura do Sonho]

O silêncio é viscoso... pegajoso!

Por que a palavra escoa como

a baba do boi, e cai no chão?

Por que, no instante de sair-nos dos lábios,

o verbo se afrouxa, perde a energia

como quem esmorece ao fim da corrida?

Por que um grito que vem do fundo

escuro e mal formulado do ser

se amortece, e morre na garganta?

O que é que nos silencia, afinal?

Seria a curvatura nua e fria do medo,

o dorso mal definido de um animal,

monstro noturno a nadar lentamente,

no rio da aldeia perdida da nossa vida?

Por que nos calamos com a boca do ódio?

Por que nos aturde o silêncio...

Será pela simples impossibilidade

de apalpar a espessura do sonho?

[...Como o faz o esperançoso imigrante

ao chegar ao porto, depois da sofrida viagem?]

[Penas do Desterro, 0h47 07 de junho de 2010]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 07/06/2010
Reeditado em 10/04/2012
Código do texto: T2304446
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.