[Da Espessura do Sonho]
O silêncio é viscoso... pegajoso!
Por que a palavra escoa como
a baba do boi, e cai no chão?
Por que, no instante de sair-nos dos lábios,
o verbo se afrouxa, perde a energia
como quem esmorece ao fim da corrida?
Por que um grito que vem do fundo
escuro e mal formulado do ser
se amortece, e morre na garganta?
O que é que nos silencia, afinal?
Seria a curvatura nua e fria do medo,
o dorso mal definido de um animal,
monstro noturno a nadar lentamente,
no rio da aldeia perdida da nossa vida?
Por que nos calamos com a boca do ódio?
Por que nos aturde o silêncio...
Será pela simples impossibilidade
de apalpar a espessura do sonho?
[...Como o faz o esperançoso imigrante
ao chegar ao porto, depois da sofrida viagem?]
[Penas do Desterro, 0h47 07 de junho de 2010]