A MENINA E O BRANCO
Sábado.
Nada parece ser o que é.
Os bêbados na esquina.
As frutas vendidas em bancas nas ruas.
Os sorrisos apressados.
O quase atropelo do homem maltrapilho.
Passo esmalte azul nas unhas.
Minhas mãos, assim coloridas,
Despejam palavras sem vértebras no papel.
O amor passou por mim
E eu sequer notei.
Talvez o cheiro cítrico do incenso
Tenha embotado a minha capacidade de sentir.
Olho a foto.
Tudo está branco.
A menina pousada no sofá
Esbanja curvas sinuosas
Que percorrem a lente da câmera
E se eternizam ali. Para sempre.
Olho de novo
E busco detalhes...
Os pés pequeninos
A displicência quase inocente
Da menina que ama mulheres
E se entrega às amantes
Num quase acinte ao que penso ser sensatez.
O plano é perfeito.
O branco é exato.
E a menina?
A menina não sabe ter sido flagrada em sua inocência.
Somente isso explica a beleza distinta do momento
Como se a bela pequena fosse uma divindade
E talvez o seja.
Olhando a foto, em preto-e-branco enfatizada
A personagem central do foco
Parece deitada,
Num ângulo de cachoeira...
Pode-se sentir a água doce.
E tudo que a menina exala
Provocando ora candura, ora espanto
Seria mãe ou filha-de-santo?
Seria quadro pintado a mão?
Folhinha de borracharia? Propaganda de revista?
Ninguém sabe.
Sabe-se apenas que, é FATO:
A FOTO encanta.
PS: Para Leila Machado