A MENINA E O BRANCO

Sábado.

Nada parece ser o que é.

Os bêbados na esquina.

As frutas vendidas em bancas nas ruas.

Os sorrisos apressados.

O quase atropelo do homem maltrapilho.

Passo esmalte azul nas unhas.

Minhas mãos, assim coloridas,

Despejam palavras sem vértebras no papel.

O amor passou por mim

E eu sequer notei.

Talvez o cheiro cítrico do incenso

Tenha embotado a minha capacidade de sentir.

Olho a foto.

Tudo está branco.

A menina pousada no sofá

Esbanja curvas sinuosas

Que percorrem a lente da câmera

E se eternizam ali. Para sempre.

Olho de novo

E busco detalhes...

Os pés pequeninos

A displicência quase inocente

Da menina que ama mulheres

E se entrega às amantes

Num quase acinte ao que penso ser sensatez.

O plano é perfeito.

O branco é exato.

E a menina?

A menina não sabe ter sido flagrada em sua inocência.

Somente isso explica a beleza distinta do momento

Como se a bela pequena fosse uma divindade

E talvez o seja.

Olhando a foto, em preto-e-branco enfatizada

A personagem central do foco

Parece deitada,

Num ângulo de cachoeira...

Pode-se sentir a água doce.

E tudo que a menina exala

Provocando ora candura, ora espanto

Seria mãe ou filha-de-santo?

Seria quadro pintado a mão?

Folhinha de borracharia? Propaganda de revista?

Ninguém sabe.

Sabe-se apenas que, é FATO:

A FOTO encanta.

PS: Para Leila Machado

Iza Calbo
Enviado por Iza Calbo em 05/06/2010
Reeditado em 08/10/2013
Código do texto: T2301901
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