pintura/Jacek Yerka
JARDIM SUSPENSO
(Memoriais de Sofia (Zocha)
(releitura)
Os Jardins suspensos da Babilônia seriam os altares da nossa infância?A infância seria uma pátria perdida, um lago congelado onde adormecidas jazem as ogivas da memória, acústica de fugidias letras em orquestral remanso de escuridão límpida...?
Contra o azul deste céu ergue-se em esplendor ainda,de possante nave, a ogiva metálica da Igreja Ortodoxa bizantina,no alto da colina da Vila Guaíra.Dobram os sinos pelos carreiros daquele bairro pobre pulsando suas vielas...
As valetas enormes ladeiam aquelas ruas sulcadas pelas nossas andanças.Valetas crateras que a lâmina do tempo não cerra os olhos das minhas vaganças.Eu piso ainda dentro delas e afundo meus pés sobre o chão movediço quase engolida pela língua
das correntezas...elas comem pelos beirais as dobras dos barrancos decepando as raízes mal nascidas, levando os seixos perdidos, rolando os mós do tempo!
Dobram os sinos...repicam os sinos da Igreja Ortodoxa ucraína.Maria-Ave olha dos meus olhos, mira os céus do bairro pobre, busca a palavra perdida.
- Oh Céus de Zavadwski!Quo Vadis, minha alma, barro da minha terra, treme o corpo do meu chão!!! Minha aldeia natal de Curitiba, com suas taças ogivas dos florões dessas dantescas araucárias aparando as geadas com suas cúpulas, com os ninhos das mãos a recolher o congelo de orvalho caindo dos céus...Essas polacas cúpulas redomam a agonia dos meus gelados ares!
De repente,no jardim...acocorada entre os canteiros, de cravos, crisântemos, mosquitinhos, dálias, vejo Zocha...simplesmente Sofia, a vizinha em frente à nossa casa, mãe do polaco lambido Leontcho que faz as regas da tardinha enquanto dobram os sinosda igreja ortodoxa com sua cúpula bizantina,chamando os fiéis para a missa da sexta hora.Os santos ainda estão cobertos! Ela Afofa a terra dos canteiros com esterco do galinheiro, como minha mãe,enquanto do outro lado da rua Florami mulher do funcionário do Tribunal ,jaz decaída sobre a cerca do portão de ponteagudas ripas procurando na rua o bosquejo da vida...Seu olhar semi morto desmaia a mesmice
e parece alheio ao brado dos sinos escorrendo pela água do bueiro, pelas valetas desbeiçadas das correntezas de fundo falso...enquanto do jardim suspenso, entoam dálias,os girassóis de Zocha, mirantes sobre o cadafalso!!!
www.lilianreinhardt.prosaeverso.net
JARDIM SUSPENSO
(Memoriais de Sofia (Zocha)
(releitura)
Os Jardins suspensos da Babilônia seriam os altares da nossa infância?A infância seria uma pátria perdida, um lago congelado onde adormecidas jazem as ogivas da memória, acústica de fugidias letras em orquestral remanso de escuridão límpida...?
Contra o azul deste céu ergue-se em esplendor ainda,de possante nave, a ogiva metálica da Igreja Ortodoxa bizantina,no alto da colina da Vila Guaíra.Dobram os sinos pelos carreiros daquele bairro pobre pulsando suas vielas...
As valetas enormes ladeiam aquelas ruas sulcadas pelas nossas andanças.Valetas crateras que a lâmina do tempo não cerra os olhos das minhas vaganças.Eu piso ainda dentro delas e afundo meus pés sobre o chão movediço quase engolida pela língua
das correntezas...elas comem pelos beirais as dobras dos barrancos decepando as raízes mal nascidas, levando os seixos perdidos, rolando os mós do tempo!
Dobram os sinos...repicam os sinos da Igreja Ortodoxa ucraína.Maria-Ave olha dos meus olhos, mira os céus do bairro pobre, busca a palavra perdida.
- Oh Céus de Zavadwski!Quo Vadis, minha alma, barro da minha terra, treme o corpo do meu chão!!! Minha aldeia natal de Curitiba, com suas taças ogivas dos florões dessas dantescas araucárias aparando as geadas com suas cúpulas, com os ninhos das mãos a recolher o congelo de orvalho caindo dos céus...Essas polacas cúpulas redomam a agonia dos meus gelados ares!
De repente,no jardim...acocorada entre os canteiros, de cravos, crisântemos, mosquitinhos, dálias, vejo Zocha...simplesmente Sofia, a vizinha em frente à nossa casa, mãe do polaco lambido Leontcho que faz as regas da tardinha enquanto dobram os sinosda igreja ortodoxa com sua cúpula bizantina,chamando os fiéis para a missa da sexta hora.Os santos ainda estão cobertos! Ela Afofa a terra dos canteiros com esterco do galinheiro, como minha mãe,enquanto do outro lado da rua Florami mulher do funcionário do Tribunal ,jaz decaída sobre a cerca do portão de ponteagudas ripas procurando na rua o bosquejo da vida...Seu olhar semi morto desmaia a mesmice
e parece alheio ao brado dos sinos escorrendo pela água do bueiro, pelas valetas desbeiçadas das correntezas de fundo falso...enquanto do jardim suspenso, entoam dálias,os girassóis de Zocha, mirantes sobre o cadafalso!!!
www.lilianreinhardt.prosaeverso.net