PSICOGRAFIA BRECHTNIANA

E em caminhões vinham

Em paus de arara os sertanejos

E em terras desconhecidas fincavam seus pés e sonhos.

Construtores e mestres de obra

Seus sonhos alimentavam o progresso

E sobre andaimes suas vidas arriscavam

E na marmita o parco alimento.

O arroz com feijão e sempre o ovo

O bife só quando recebia o parco salário

O nos bordéis os sonhos descarregados nos corpos

De tantas outras que aqui antes aportaram.

Não sabia ler nem escrever

Era um analfabeto das letras.

Indignava-se com a corrupção

Com a alta dos preços da carne, do feijão, do peixe...

E, no entanto não tinha voz nem vez

E já passadas as eleições

Outro dissimulado político assumia

E o quadro se reproduzia como há séculos.

Até quando se perguntava.

E o doutor que outros países conhecia

Levava sua vida sem muito que lamentar

O menor abandonado, a prostituta, a miséria, a violência

Nada lhe dizia respeito, não era seu problema dizia.

E as cadeias entupidas dia a dia novos hospedes recebia

As escolas abandonadas nada ensinavam

E os professores vítimas do governo e do povo

Lamentavam o fim já esperado.

E como numa roda gigante

Nada se renova

Tudo se repete e se perpetua

E o analfabeto político

Como Fênix que renasce das cinzas

Apresenta-se garboso na passarela da vida

Nada sabe porque por opção ignora

E grita aos quatro cantos que não gosta de política

E se empanturra dos favores em troca de outros.

E o usurpador do povo, lacaio das empresas nacionais e multinacionais

O político vigarista se multiplica como o vírus que mata e destrói.

E o povo?

Bem, o povo

Deixa prá lá

Dirão os doutores e seus políticos.