A QUASE MORTE DO AMOR

Parei de amar para não matar o amor

Deixei um algodão doce sob o mármore da cozinha

Para que sentisses a minha partida como a um parque de domingo

Não fiz as malas. Não levei as coisas que eram minhas. Parti quieta

Quase como quem enlouquece no meio da noite e de si mesmo.

Não quis estragar o teu sorriso lindo com um quê estranho de espanto.

Toquei-te suavemente evitando que acordaste

Não quis que me visses dar as costas

Porque não era o pretendido.

Sinto ainda teus dentes alvos arrancando pedaços do meu corpo

E o teu jeito sereno de pedir carinho em meio ao pranto.

Parei de amar o amor que estava adoecendo

O amor que uma vez parou na porta do quarto

O amor que não chegamos a fazer.

Parei de amar o amor que levei embora e que guardo em mim

Como a um anjo desesperado com asas arrancadas sem prévio aviso.

Ao parar de amar o amor, parei de fingir não amar-te

E colei o amor casto, intocado, numa das estantes do meu ser sem sentido

E, assim, matando o amor que tanto amo,

Perdi o senso do que poderia amar além do amor quase morto.

Iza Calbo
Enviado por Iza Calbo em 04/06/2010
Código do texto: T2299531
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