Taciturna, esgueira-se por cada esquina
Arrastando pelas ruas sua sede e sua fome
Palavras ainda mortas que ainda nem imagina
A beleza de tudo que esvoaça e nem tem nome
A palavra parida vinga tanta falta de vida
Mostra a face, mostra o olhar entristecido
E cala fundo tanto da coisa esquecida
Olhando nos olhos de quem tiver esquecido
Mora agora no ermo de tudo silenciado
Repisa glórias pretéritas de ilusão infinita
Esconde-se um segundo antes de tudo acabado
Agarrada com sofreguidão à última coisa bonita
Para proteger o mundo de tudo o que mata
Preservar na solidão algo que faz viver
Algo que tenha da vida uma ideia sensata
Uma sensatez necessária para sobreviver

… a palavra pariu um verso

Um rebento nos ermos escuros da madrugada
A carregar em si a beleza de tudo que não tem nome
Assim como a sede e a fome da coisa rebentada
Que queima por dentro, dilacera e consome
Uma palavra taciturna esgueira-se por cada esquina
Arrastando pelas ruas sua beleza, sua sede e sua fome
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 04/06/2010
Reeditado em 07/08/2021
Código do texto: T2298348
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