Tarde de outono
Amor, quanto mais eu te amo mais bate a certeza de que eu não sei te amar.
Há sempre um talvez perguntando por você.
Há um beijo que eu não sei te dar.
Há o olhar que foge quando devia olhar.
Há a mão que se esconde quando devia tocar.
Há o murmúrio do silêncio quando a boca cala na hora de falar.
Há este teu corpo quente que eu não sei me dar.
Há um brilho nos teus olhos que eu não sei pegar.
Há este sentimento tão grande que parece que vai me anular.
Amor, quanto mais eu te amo mais me ilude a sensação de que não há mais lugar pra tanto sentimento.
Mas, o amor tem sua própria medida.
Chega, invade, se apossa, deleita, desmente...
E é assim todos os dias.
Me pego a pensar os teus sonhos, pois os meus já não são meus.
Eu tenho a sensação de que nem existem "meus sonhos".
Meus sonhos, hoje, passam por você.
Também as noites, useiras e veseiras em solfejar canções, também as noites já não são mais minhas.
Vão ao teu encontro.
Falam coisas tuas até que eu adormeça.
Deixam nos meus olhos um sonho que não quer vingar.
Não acontece.
Talvez o sonho não seja pra mim.
Talvez enquanto aguardo o sonho ponho-me a enganar-me.
Queria ser teu.
Queria que fosses minha.
E no sonho, que há de vir, nos amaremos.
Daremos o beijo que até agora só nos prometemos.
Te tocarei com calma e alma em lugares que ainda não toquei.
As noites, amor... As noites antes de eu dormir falam destas coisas.
Amor, sem saber te amar eu vou vivendo os teus nãos.
Amorzinho, te peço, não me digas não.
Me diz talvez.
Me diz quem sabe... mas não digas não.
“Não” é muito grande.
“Não” é para sempre.
E sempre é tarde demais.
Há coisas que eu sinto que não sei te dizer.
Eu nem sei sentir.
Eu nem sei mentir.
Acho que se eu me enganasse eu não sentiria tanto.
Se eu criasse uma só mentira a minha dor se desfazia.
Mas, amor, eu tentei... eu tentei, mas não consegui mentir pra mim.
De dia até que eu minto... minto muito e sozinho.
E me encanto com estórias que conto pra mim.
Mas, a vida não é só feita de dias.
Vêm as noites... E com as noites vem um dedo em riste a me cobrar coerência.
Amor, nas noites eu me dano.
Nas noites eu me encontro e acho que nunca mais eu vou conseguir mentir.
As noites têm seus dedos e em seus dedos elas têm a dor.
Vidinha, à noite, eu sinto tanto a tua ausência.
Uma das mentiras que crio pra mim durante o dia é que posso ficar longe de ti.
Minto, amor. Minto e até creio no que acabo de dizer.
Mas, nas noites, o que eu menti, é o sabor insano de tudo que eu desisti.
Cala-se o mundo!
Existe só o burburinho interior dos fantasmas que produzi.
Vozes veladas vão ao encontro dos meus medos.
A noite faz-se longa em silêncio e solidão.
E já não posso te ter.
Amor, às vezes a porta abre e tenho que escrever.
São sensações, idéias, pequenos pedaços de um mundo que aos poucos vai acontecendo.
São meus sentimentos a te procurar.
É a minha ânsia de agradar você.
São flores escritas que eu quero te oferecer.
O aroma destas flores está em mim e em você.
O perfume que exalam é feito do encontro das nossas emoções.
São as flores rubras do meu bem querer.
São as flores azuis que vêm com teu olhar
Amor, acho que por hora eu já me encontrei.
As portas se fecham.
O burburinho fica pra lá do outro lado dos muros.
Do lado de cá tudo que eu sou é esta angústia carente de existir.
Sou estes sentimentos que me tomam e me levam por caminhos que só ao fim descubro.
Quando descubro (descobrirei?).
A jornada é longa.
A jornada é sonho.
Os sonhos dormem enquanto aguardam.
E podem criar mundos quando despertarem.
Amor, a vida ainda me espera numa tarde de um outono.
No céu as nuvens cinzentas de frio não deixam o sol te ver.
Chove!
Faz frio!
E no rabisco do meu mundo ainda falta você.
Te amo... e este amor é medo quando estou sozinho.