O Conteúdo Colorido da Paixão.
Tudo começou no encanto de um encontro. Tardiamente, compreendi que na verdade, tudo começou no confronto, que envolve uma paixão, posto que o principal já esta feito. Porque, esta periferia esconde naturalmente aquilo que chamo de principal, responsável pelos arremedos do coração. O coração, não teme o deserto, apenas o ignora. A paixão se parece com o apagar das velas num bolo de aniversário,assim como o crepúsculo da razão, diante das cores desta festa. Como então dizer ao Sol, que não brilhe na manhã seguinte? Mas, o poeta carece deste calor, e tateia sem esta luz.
Na renovação deste pendor, o coração encarcerado, mas incontido, há também, um tributo a pagar: Um sofrimento inútil e uma esperança vã. Este, é o único sentido do principal que a razão desconhece. Ao contrário (do coração) a razão não conhece o principal- que é restabelecer - mas conhece o sentido. Por isso, não pode ignorar este deserto, que detém se contra o tempo, e só pra começar, avança, não para por aí, diante de um imenso desafio que esta chama ardente e o silêncio da alma se lhes impõe. Extinguir esta chama romântica e apagar em definitivo a luz desta esperança, é antes de tudo definir as partes de sua dor e de sua alegria. Mas, o paradoxo continua...
Afinal, trata-se de viver.
Este confronto em se estar feliz, e angustiado ao mesmo tempo, o prazer do desejo renovado, e a dor pela renúncia, só resiste porque é paradoxal. Sendo paradoxal torna-se irracional, e não pertence mais a clareza, daí esse sacrifício, criou sua grandeza, e, por não conhecer o sentido embora demonstrando uma lucidez quase cega e, apontando para uma lógica fragmentada, sem clareza e irracional, a paixão acaba no absurdo. Como julga-la? A paixão é necessariamente desnecessária, pois é improvável e às vezes inevitável. Ela se nutre de um paradoxo que acaba com qualquer pensamento racional: Primeiro, é preciso sofrer, depois, é preciso gozar, com isso, sofrer mais para poder gozar e assim por diante...
Essa espiral neurótica ganha assim o seu contorno. Seu núcleo, está em expansão, e tudo está apenas no começo! Vejamos estes versos: “ Ah! Onde repousa meu coração/o conteúdo colorido da paixão/a doce esperança em te querer.” “ Sou um Centauro alado/ no amor acorrentado/entre o prazer e a dor...” Estes versos retratam o principal de sua paixão e, ao mesmo tempo reconhecem o seu martírio.
Esse masoquismo psicológico, é um espinho cravado no coração, ao mesmo tempo que tortura, lhe é gratificante porque liberta ao mesmo tempo que encarcera. Julgar uma paixãode loucura, parece simples demais. A loucura, tem seu próprio desígnio e a sanidade sua própria virtude, mas a paixão, só as reconhece como ilhas flutuantes, pois sabe que navega em águas turbulentas que fatalmente irão desaguar no temível rio Estige.
Também, não se trata aqui de arrazoados ou conceitos morais com seus apelos irrisórios. Trata-se antes, de estabelecer uma divisória, e, de se conhecer onde começa a lucidez e termina a planície pantanosa desse terreno mórbido em que uma alma se acha caminhando. Há momentos em que a terra firme já pode ser notada, mas o tempo conspira... A paixão desconhece seus limites e, orgulha-se disto.
Ao perder o contato com o objeto e, afastar-se do concreto, apenas flutua, mas flutua sob um sol enganador. Resta ainda uma questão que não será respondida de pronto: Essa chama crepitante que não pode se extinguir, essa loucura beleza, e esse anseio de liberdade, são amigos ou conspiradores? Afastam o deserto ameaçador que impõe uma solitude definitiva? Talvez a razão detenha a chave, mas certamente é o coração que guarda em segredo a porta deste mistério. Por isso, é preciso antes beber neste Graal profano o vinho que não sacia, mas este desejo nunca satisfeito, esse sonho induzido que jamais será realizado, são antes de tudo o combustível que alimenta esta paixão.
Então, o poeta passa a freqüentar um cenário virtual, onde a realidade não pode ou não deve ser percebida “in totum” sob pena de um colapso ainda mais devastador: A depressão. Ao contrário, quando surge algo como um risco no céu, um sorriso meigo, um olhar mais profundo ou ainda uma palavra de reconciliação com aquilo pelo qual devaneia, sua razão em raros momentos de lucidez é bloqueada,aos poucos são velados seus sentidos, e sua auto estima é seqüestrada pela impotência mental. Logo se vê atado a angústia e a uma paz envenenada. Estes momentos de devaneio passam a ser normais e, de tão intensos, uma palavra não está de todo errada: morbidez. São momentos em que a alma vagueia no deserto e o coração se estende para poder alcançar o braço que o açoita, onde a mente já não distingue mais o concreto da fantasia. São diálogos profanos que mantém se absurdos com o travesseiro num espaço entre um corpo real e um fantasma. Palavras são ditas assim, como se fosse um diálogo, porém é apenas um monólogo delicioso e obsceno. Isso ou leva a um desfecho imprevisível, ou acaba adormecendo, por que relaxa, mas também não consegue vencer essa ilha de exaustão que o corpo aportou ao final de um dia. Outras vezes, vislumbra um clímax, resultado de um moto contínuo onde a alma se retém e o corpo também se retém porém explode num orgasmo completo! Depois, acorda e adormece ao mesmo tempo acariciado pelo roçar das Ninfas. Então, é quando alça um vôo em direção ao sonho bom ou a um pesadelo, e a alma mergulha fundo. Cada retorno desse mergulho ao inferno não pode ser olvidado de uma só vez. Cada sobrevôo sobre jardim do Céu não pode ser demonstrado, por que está implícito, mas já não delimita nenhum segredo porque não pode saber se é bom ou se é ruim, contudo, isso não importa, é irrelevante dada a certeza de que: aquilo quer dar prazer, e adormecer o coração...Mas, o poeta só dispõe da Natureza. Ali, busca seu refúgio, e delimita às vezes- sua fronteira. Essa fonte que é inesgotável, o acaricia e o abriga por parecer segurar seu espírito na calma e na serenidade da manhã. Porém, ele repousa apenas numa paz sem fundamento e silenciosa por demasiado e que nada responde quando solicitado às questões que afligem seu corpo e sua mente antes confundem seu espírito já próximo a exaustão.
Toda Força vem de Deus - é certo- mas, de onde procede a origem desta força gratificante e destruidora? Diante desta questão, ele busca na ordem dos deuses antigos alguma resposta. Tem a sensação de estar dando um salto, mas, situa-se numa espécie de aresta quase definitiva.
A questão ultrapassa os sentidos.
Onde estão os deuses? Todo poeta conhece estes dois polos: De um lado Eros, e do outro Tanathos. Um, representa a vida e o prazer, o outro representa a destruição e a morte. Descrever esta parábola apenas com uma mão, já é renascer. Ele, também sublinha os astros e as estrelas. Olha fixo para o céu e o silêncio é ainda maior. Ele sabe, que os deuses não mais se sustentam no Concreto, em vão tenta reter suas imagens, decifrar seus códigos, ordenar seus símbolos, e com isso obter esplendor mas, eles só existem no inconsciente e são úteis quando se aliam as Musas ou quando satisfazem os desejos mais profundos de liberdade. São com estas imagens e estes mitos que parecem explicar, mas que nada justificam que devaneia. Resta um consolo: Ele, aprende a conviver com suas próprias experiências arquetípicas Acredita na força do Destino e aí, situa se outra vez no sentido - esta aresta - como disse: Quase definitiva.
Ele precisa desse universo repleto de deuses, símbolos e mitos onde ainda existe uma razão, que desenvolve-se dentro de uma lógica, ainda que desconhecida. Esses ícones, são preciosos demais para nega-los, principalmente quando tentam explicar aquilo que não pode ser provado. Aí, aparece uma ruptura: São apenas jogos, nada mais. Estas questões que se perdem no contexto, vão permanecer jacentes. O mundo não as explica, ao contrário as complica, os deuses, estarão surdos e mudos, também não vale a pena enumera-los todos pois parecem irrelevantes diante da chama de um coração apaixonado. Então, de onde vem essa alma gêmea senhora de um destino e dona de suas emoções? Por que não pode desvencilhar-se? Onde repousa esse espírito sonolento e acalmado por beijos e abraços fecundos, de um tempo que nem é presente? Então, esse pendor só pode se confundir com sua realidade e chocar-se contra os muros no limite de um espaço outrora ilimitado, e de uma só entrada percorre o próprio sonho. Mas, sonha só este sonho, não é mais um sonho a dois ...
Figuras personificadas nestas cenas surrealistas que parecem reais, logo são varridas pelo vento deste deserto miserável, que percebe ao abrir os olhos. Elas variam, dividem-se, ora são como berços, ora como espinhos.
Está feita a última fronteira.
Isso, é diferente daquelas almas cândidas dos adolescentes de outrora cujos corações ainda desconheciam estas escarpas íngremes das paixões desconcertantes com seus efeitos devastadores. Mas, também se apaixonavam e no silencio dos seus quartos eram admiráveis enquanto floresciam. Nada escorria lhes entre os dedos, porque ignoravam o segredo, possuíam intacto o sentido e sonhavam como anjos. Às vezes sonhavam com anjos meninas. Eles so fazia-lhes sorrir. Elas só podiam sorrir. Nada mais. Isso,era como encontrar uma única e solitária flor azul entre as amarelas em meio ao campo.
Os anjos abriam suas azas alvíssimas, antes de voarem, estendiam as mãos e jogavam beijos. Seus nomes era Inocência.
Álvaro Francisco Frazão.