Verter

Chega-me, em alguns momentos, os quais nomeio de Azuis, uma vontade única de verter e nunca mais voltar ao derradeiro ponto de partida.

É assim como escrever em cruz e não aceitar a minha frustrante relação com Deus, tantos ateísmos unanimes e desnecessários.

Basto-me porque conheço e sei de cor a altura da base de um degrau até onde posso vê-lo, antes de chegar ao próximo.

Crio e creio somente na minha natureza, porque são minhas as pernas que me levam a subir e descer escadas pela eternidade, mesmo que não seja advinda delas esse meu cansaço.

Não que Sísifo, naquela manhã pacífica tenha me contado um pouco tonto sobre um monte e seu cume... É que eu achei parecido...

Pertenço-me e sei disso porque ora sou arte e ora sou canção. E entre elas não existe uma que me seja menos descente do que aquilo que sou.

E, se como por encanto desaba sobre mim, então, tal Azul, deito-me devagar e sonho até adormecer. Nesse sonho volto a verter e vertendo me permito, sem culpa alguma, ser tudo o que eu consiga tocar.

Eu:Tânia

Em:19/03/2010

Tânia Fonini
Enviado por Tânia Fonini em 01/06/2010
Reeditado em 05/06/2010
Código do texto: T2293179
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