A bela mulher da estrada do Peritoró




É no Peritoró onde a alma lava o bucho
E dança pra chuchu depois de um carimbó
Esfrega os pés na beira da pista seca e quente
Permanece o dia e todas as horas tão só
Com bolsa e boca pintada na saia listrada
Balança a mão mil vezes pro caminhoneiro
Uns nem enxergam àquele monstro violão
Debruçado na esquina de um violino afoito
Na saia apertada tem um gigantesco mundão.

Pois é.
É no Peritoró onde a moça lança a metade da sorte
E fala que a melhor coisa da vida é fazer forrobodó
Com Mastruz com Leite até o capeta dança só
Arriba os olhos e fica louca com a buzinada
Indaga de prontidão se tem Calcinha Preta
Arrojada não para, corre, corre ao gozo do destino
Com as unhas pintadas e cabelos longos penteados
Ela é toda acabrunhada com o vento que entra na saia
Passa a mão em todos os instantes nos charmosos cabelos
Vira-se, remexe e balança o corpo numa trajetória
Acha-se Top Model, e diz que parece com a Thalía
Com uma mecha loira, reflexos e variadas luzes
Ali vai ela todos os dias no ponto certo sem aluguel
Um suntuoso escritório da vida ou sala de espera.

Pois é.
Lá vem um carro pequeno. Ela nem liga e nem dá bolas
Não dá a mínima atenção ao destinatário que observa
Faz de conta que é totalmente cega e bastante surda
Ela. A moça bonita só quer uma carona do caminhoneiro
Amigo da cervejinha, do bode assado e do cafezinho

Pois é.
E no Peritoró que ela faz o ponto do mocotó
Licenciada na volúpia da cidade de Codó
Na maior corporação da alma, ela diz que nada sacia
Insaciável pela sede augusta do tal de amor
Mais a moça leva pra casa na manhãzinha
Um minúsculo cambinho de peixe de três reais
E um quilinho de arroz na bolsa
Só faz compra à vista na vendinha
Do tal Zeca da Paçoca Azeda, “vendedor de sexo”
Lá... bem ali... na entrada do Codozinho
Tudo é brincadeirinha com xodozinho
E alegre ela vai descansar o tamborim
Açoitado dia e noite por várias clarinetas.

Pois é.
Tem dias que o vento nem por lá passa,
Dobra a primeira quina pro lugarejo “Saco”
Nesse dia ela aprendeu uma grande lição
Que Deus pai tenha grande compaixão
Do amigo caminhoneiro das velhas estradas
Levou a famosa fêmea para a capoeira
“Bien” “introduced” a palmeira de todo o babaçual
Na agonia do prazer, cobrou o bom serviço informal
De imediato, o capiau deu um sopapo na cara
Amarrou as mãos da donzela e fez uma irada cadela
A tal moça Thalía suplicou, chorou e xingou
E disse todos os nomes da mãe natureza e do universo
E o diabo feito gente pisoteou sem suplícios a mulheraça
Ela berrou, gemeu, chorou e gritou por comiseração
Não houve uma peste vivente que salvaguardasse.

Pois é...
O facínora do subterrâneo avisou que reside lá no Sul
Apanhada, magoada e sem ver mais nada
Ali ficou deitada no meio da mata dos cocais
Marcada com lágrimas, bordoadas e sangue
Rosto inchado sem a roupa da alma pedinte
E ainda resistiu aos duros golpes da vida.

Pois é...
E a dengosa pensou logo em mudar de ofício
Sem emprego, discriminada e sem ajuda
Voltou pra casa com feridas graves pelo corpo
E não foi ao médico por completa vergonha
Mas, os bons e amigos vizinhos apenas olhavam...

Pois é...
E a jovem atravessou a rua com a cabeça baixa
Numa simples toalha doada pelo Zeca da Paçoca Azeda
Sem bolsa, boca quebrada e sem a saia listrada
Apenas desenhada no espírito o desgosto compadecido
E o filhinho de quatro anos apenas chora, chora.
Talvez, um dia quem sabe? Possa o guri mudar os rumos
Com outros horizontes do doce e boa vida
Através da bela face que beijou e saciou em beijos
O tal de amor com vários homens que o coração não enxerga.

Pois é...
Mais benéfica é a aplicação da Lei
Que estica, prolonga e se desfaz para os poderosos
Cruza os braços na Maria da Penha
Enquanto vale mais receber “por fora”
Mostrar serviços nas rondas como bom camarada
Olheiro indigesto do maravilhoso pedaço da cor anil
Quebrando o cacete nas vielas da madrugada
Demonstrando ser a Lei com os niños que pegam as galinhas.

Pois é...
E as pobres mulheres ainda vivem por lá
Na futura esperança de chegar a política,
Trabalhar o dia todo entregando pedaço de papel escrito
Isso é que um Brasil bom de bola,
Com almoço dos políticos na Distrital do País
A todo instante uma nova Lei. rsrs





ERASMO SHALLKYTTON
Enviado por ERASMO SHALLKYTTON em 01/06/2010
Reeditado em 04/10/2011
Código do texto: T2292446
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