Intuição

Meu amor, há momentos em que a saudade percorre os meus rumos como pétalas de flor levadas pelo vento.

Traça caminhos sem rumos, rumos sem direção, direções que não me levam a você..

Esvoaça à mercê do vento.

O ar aspira o perfume intenso das pétalas que flutuam antes de cair.

Em mim fica este vergar atávico de uma solidão.

E a vida, sozinha e triste, resvala paragens insondáveis.

Atravessa lugares, nua e muda, perdida de amor.

Há instantes em que a vida estanca para eu te chamar.

Chamo! Mas meu grito não alcança a distância entre o meu querer e o poder te ter.

A distância torna-se algo a provocar a mente.

E a mente é o eterno confronto entre luz e sombra.

Envolta na distância a mente, mente, mente, mente...

A distância me leva a lugares onde o amor se confunde com a posse.

Onde dormem os dias frios e cinzentos, onde só grassa a dor.

Onde o amor se deita sozinho para não sofrer nem chorar.

E já não se sofre,

Já não se chora.

A vida torna-se o retumbar caótico do espírito oco que reles sobrou.

Esgrime aos tolos o falar dormente de tudo que pensou.

Pensa a existência,

E pensar não é viver...

O pensamento não me revela o essencial que há em mim... que há em você.

Entre eu e você há momentos insuspeitos introjetados na nossa emoção.

Entre o meu amor e o teu há esta cumplicidade maliciosa, esta flor vermelha e bela que só teu sentimento sabe trazer pra mim.

Meu amor, a saudade é a alma pedindo um momento que a vida não quer lhe dar... Que a vida não pode lhe dar.

É o nosso sentimento que foge e se asila em outro lugar.

É este sentir moroso que vai turvando as vistas até nos cegar.

Enrosca-se ao coração e nos leva a ermos caminhos onde o amor se recolhe para, enfim, chorar.

E o choro, vida minha, é a canção mais triste que a alma pode entoar.

À tardinha os olhos da saudade repousam aflitos e lassos no horizonte que se defaz em cores.

A saudade traz o vento frio que incendeia a noite.

Deita-se o dia... ergue-se o crepúsculo vespertino vestindo suas sombras.

A noite preenche o ar em volta com a escuridão.

E na vastidão da noite meus olhos mergulham no escuro, tateando, tentando te encontrar.

A noite é copioso leito para o amor te sonhar.

O sonho é doce recanto para o amor te namorar.

Amor, a saudade, filha da ausência, é esta fogueira onde ardem os sonhos .

Ardem os teus beijos ternos, tuas mãos carícia, teus olhos de menina,

O teu corpo nu, teus beijos que não têm pudores, o deleite a nos desmaiar.

Tudo é saudade, amor...

Tudo sonho dentro da noite...

A crassa noite que transpassa a gente.

Tudo sonho...

Enquanto o Tempo devora a vida a gotejar segundos.

Tal qual a bica das dores onde o limiar da aflição distorce a essência da emoção.

Amor, o Tempo acende a saudade e lhe é seu par.

Demora-se a ir embora nas horas longas de solidão.

Às vezes, amor, nestes dias em que me sinto tão só, taciturno eu ouço o passo ritmado do Tempo a me abandonar.

A vida pára em total letargia.

Só o sentimento espreita...

Espia...

Espera...

Silêncio!

O meu sentir se enlaça a você, meu amor.

As horas não mais oprimem.

Só existe este sentir,

Esta percepção íntima,

Este pressentimento,

Esta intuição,

De que na vida onde vivo só existe eu e você...

...e esta saudade infinda a nos namorar.