Perguntaram-a sobre sua idade, ela então respondeu:

“Tenho a idade das minhas insônias, das noites em que dormi sem saber do sol do outro dia, dos dias em que acordei ao meio dia, apenas pra encurtar o dia.Faço aniversário nas risadas que tiro partido no fim do choro, no fim das supresas estragadas, só pra recompensar.

Apago todas as velinhas nas escuridões do âmago, pra depois acender tudo de novo quando a vontade de sumir desaparecer.

Recebo cartas, rasgo.Recebo felicitações, não agradeço.

Não é mal educação, eu não tenho idade.

Não nasci no dia em que surgi na Terra.

Sou uma alma antiga, gasta, vivida, revivida.

Espaço? Tempo? Horas? Ganho minutos arquitetando anseios.

Vinte e um o quê? Não responda anos.

Responda sapatos surrados, liberdade cheia de rugas, transgressão de fios brancos, responda assim, desse jeito, como é; como sou e nunca me dei conta.

É certo que esqueço meu nome.Você sabe como me chamo?

Me chame do que mais lhe agradar a boca.Aceitos apelidos e injúrias.

Não coma o bolo da minha festa, o recheio é de raticida.Por cima, confeitado com cerejas.Um bolo que dá gosto, de um veneno matador -assim também posso ser-.

Quer ser convidado especial? Saiba que não irá entrar.Te chamo, você me chama, eu te amo e você dorme na sua cama.

Parabéns, nesta data querida.Muitas felicidades, anos cheio de vida.Não desafine ao cantar.Cante o estribilho inteiro, chegue ao final da música.Cantando de novo, até achar o tom.

Penetra não entra, quem eu não conheço, nem na lista está.

Você não me conhece, me pegue de bom humor que te mostro os pêlos pubianos da minha parte imortal.”

ladmira
Enviado por ladmira em 31/05/2010
Código do texto: T2290741