[Ah... Não me Perguntes]
Não me perguntes
por que estou acordado a esta hora,
por que o tédio ainda não me matou,
por que a solidão ainda não me sufocou,
por que a perspectiva do amanhã nem me assusta mais,
por que sou inespecífico quanto a mim,
por que o meu corpo arde na noite,
por que um dia ou um ano não faz diferença,
por que um minuto faz toda a diferença,
por que as palavras são ponte para o nada,
por que as palavras são ponte para o ser,
por que, depois de ti, ninguém mais cabe em meu peito,
... e por que eu não me canso de ser um idiota, enfim!
Mas, sobretudo, eu te peço:
Não te percas de mim,
mas fala-me, se podes:
quanto devo chorar,
quanto devo padecer,
para onde preciso correr,
se o problema da minha vida
é que não posso te esquecer?
Já soltei o corpo e a mente
na ladeira do abandono...
que rolem, que rolem...
Olha só: eu nem estou mais aqui,
como um sonho que some ao amanhecer,
[acaso estiveste me sonhando? Ora... desculpa-me, sim?]
eu me vou de minha consciência, parto do meu mundo,
e também, eu me vou de ti — apago-me — fui!
[Penas do Desterro, 31 de maio de 2010]