NOTAS PARA SE EMPREENDER UMA VIAGEM NO PENSAMENTO
(ou Essas Coisas Muito Difíceis de se Pensar, as quais, quando as
Pensamos, tornam-se mais Difíceis Ainda)
Para se empreender uma viagem no pensamento, a bagagem é a coisa menos simples. Vai muita coisa. É uma bagagem de toda a sua vida, de uma vida inteira. E, muitas vezes, é uma bagagem de tantas vidas inteiras. E leva-se de tudo, porque tudo o que se leva é de suma importância.
A vantagem é que os pensamentos ocupam pouco espaço, a não ser que estejam registrados em livros, quando o peso e o espaço que ocupam são consideráveis. Eu mesmo, carregando os pensamentos dos outros em linguagem impressa em livros, ganhei por vezes uma certa dor nas costas.
Mas vamos aos pensamentos. Eles se referem geralmente a coisas concretas e a coisas abstratas, coisas reais e coisas imaginárias. Para entenderem, por ora, uma pedra é concreta e um número é imaginário. E os pensamentos servem para nos referirmos às coisas, e estas estão ou no mundo real ou no mundo de nossa mente, haja visto o exemplo da pedra e do número. Referindo-se às coisas, os pensamentos querem conceber o que as coisas são e o que não são, porque são o que são e não são outras coisas. Um filósofo antigo traduziu muito bem isso ao dizer que “O que é, é. E o que não é, não é.”(1) O que significa afirmar que as coisas são e não podem não ser. Que o ser existe e o não-ser não existe. Ou que tudo que é, existe. Sempre foi assim complicado, nunca foi tão fácil. E esse velho filósofo dava início a essa viagem do pensamento, que até hoje não teve parada. E, se ele não pensasse assim, até hoje não teríamos com que encher os nossos cadernos de apontamentos e o mundo não teria se transformado tanto.
Mas o que interessa agora é tentar imaginar como funciona o pensamento. Para tanto, imagine, por exemplo, uma cadeira. Há, no pensamento, três níveis em que a coisa é pensada, ou concebida. E muitas vezes há ainda um quarto nível a depender da profundidade desse pensamento.
Cadeira. Na mente, o pensamento chega a pronunciar a palavra, como se falasse lá dentro, mas sem emitir sons. Pode-se pensar também no objeto a que a palavra se refere, sem pronunciá-la. Pensando no objeto não é muito difícil de conceber. Quando se pensa em cadeira, sabe-se que o que está vendo não é uma mesa, por exemplo, ou uma poltrona, uma abelha ou uma árvore. Pode-se pensar, em um outro nível, na palavra, como se ela estivesse escrita na sua mente, num cartaz ou num caderno de apontamentos como este do qual me utilizo. Contempladas as tentativas de definição dos três níveis de pensamento, a pergunta que se faz é sobre qual seria o quarto nível.
É o mais profundo. É quando se pensa em cadeira sem ouvir pronunciar na mente a palavra ou sem ver objeto projetado na mente, mas pensando nele. Este pensamento nesse nível é o que atinge de mais perto a essência das coisas. Ele, embora muito pouco praticado, a não ser pelos adeptos de reflexões profundas e de meditação, é mais corriqueiro do que parece. Mas é difícil de ser praticado. Esse quarto nível exige contemplação e dedicação.
Pode parecer absurdo ou inútil essa reflexão sobre os níveis do pensamento na viagem que ora empreendemos, mas procure imaginar tantas outras coisas pensadas assim, para entender de onde brota essa imaginação que constrói e destrói mundos. Procure imaginar, agora, que está bem preparado, essa essência de todas as coisas, que não sejam somente cadeira: árvore, céu, batata, gato, amor, justiça, cubo, paz, olhos, pedaço de pau, lixo, felicidade, ventilador, prazer, lata, sapato, dor, tente imaginar a dor, saudade, distância, pipa, sol, lua , água, terra, praia, fogo, ar, carinho, mar, cidade, amizade, humanidade...
O sol se põe no horizonte. Mais uns minutos e não vai dar para escrever mais. Só pensar. Imaginar...
Espero que pensem na essência de todas as coisas. Vocês se sentirão mais sábios e estarão muito próximos de encontrar uma razão para viver.
(1)Parmênides de Eléia, cerca de 530-460 a.C.
(Fragmentos dos Cadernos de Anotações de Pablo Gonzalez Garcia, que os escrevia quando menino, até o seu súbito desaparecimento em 05/05/1965; seus cadernos foram encontrados pelo Professor Ernesto em 19/07/2009, enquanto revolvia a terra do fundo do jardim de sua casa para plantar rosas)
(ou Essas Coisas Muito Difíceis de se Pensar, as quais, quando as
Pensamos, tornam-se mais Difíceis Ainda)
Para se empreender uma viagem no pensamento, a bagagem é a coisa menos simples. Vai muita coisa. É uma bagagem de toda a sua vida, de uma vida inteira. E, muitas vezes, é uma bagagem de tantas vidas inteiras. E leva-se de tudo, porque tudo o que se leva é de suma importância.
A vantagem é que os pensamentos ocupam pouco espaço, a não ser que estejam registrados em livros, quando o peso e o espaço que ocupam são consideráveis. Eu mesmo, carregando os pensamentos dos outros em linguagem impressa em livros, ganhei por vezes uma certa dor nas costas.
Mas vamos aos pensamentos. Eles se referem geralmente a coisas concretas e a coisas abstratas, coisas reais e coisas imaginárias. Para entenderem, por ora, uma pedra é concreta e um número é imaginário. E os pensamentos servem para nos referirmos às coisas, e estas estão ou no mundo real ou no mundo de nossa mente, haja visto o exemplo da pedra e do número. Referindo-se às coisas, os pensamentos querem conceber o que as coisas são e o que não são, porque são o que são e não são outras coisas. Um filósofo antigo traduziu muito bem isso ao dizer que “O que é, é. E o que não é, não é.”(1) O que significa afirmar que as coisas são e não podem não ser. Que o ser existe e o não-ser não existe. Ou que tudo que é, existe. Sempre foi assim complicado, nunca foi tão fácil. E esse velho filósofo dava início a essa viagem do pensamento, que até hoje não teve parada. E, se ele não pensasse assim, até hoje não teríamos com que encher os nossos cadernos de apontamentos e o mundo não teria se transformado tanto.
Mas o que interessa agora é tentar imaginar como funciona o pensamento. Para tanto, imagine, por exemplo, uma cadeira. Há, no pensamento, três níveis em que a coisa é pensada, ou concebida. E muitas vezes há ainda um quarto nível a depender da profundidade desse pensamento.
Cadeira. Na mente, o pensamento chega a pronunciar a palavra, como se falasse lá dentro, mas sem emitir sons. Pode-se pensar também no objeto a que a palavra se refere, sem pronunciá-la. Pensando no objeto não é muito difícil de conceber. Quando se pensa em cadeira, sabe-se que o que está vendo não é uma mesa, por exemplo, ou uma poltrona, uma abelha ou uma árvore. Pode-se pensar, em um outro nível, na palavra, como se ela estivesse escrita na sua mente, num cartaz ou num caderno de apontamentos como este do qual me utilizo. Contempladas as tentativas de definição dos três níveis de pensamento, a pergunta que se faz é sobre qual seria o quarto nível.
É o mais profundo. É quando se pensa em cadeira sem ouvir pronunciar na mente a palavra ou sem ver objeto projetado na mente, mas pensando nele. Este pensamento nesse nível é o que atinge de mais perto a essência das coisas. Ele, embora muito pouco praticado, a não ser pelos adeptos de reflexões profundas e de meditação, é mais corriqueiro do que parece. Mas é difícil de ser praticado. Esse quarto nível exige contemplação e dedicação.
Pode parecer absurdo ou inútil essa reflexão sobre os níveis do pensamento na viagem que ora empreendemos, mas procure imaginar tantas outras coisas pensadas assim, para entender de onde brota essa imaginação que constrói e destrói mundos. Procure imaginar, agora, que está bem preparado, essa essência de todas as coisas, que não sejam somente cadeira: árvore, céu, batata, gato, amor, justiça, cubo, paz, olhos, pedaço de pau, lixo, felicidade, ventilador, prazer, lata, sapato, dor, tente imaginar a dor, saudade, distância, pipa, sol, lua , água, terra, praia, fogo, ar, carinho, mar, cidade, amizade, humanidade...
O sol se põe no horizonte. Mais uns minutos e não vai dar para escrever mais. Só pensar. Imaginar...
Espero que pensem na essência de todas as coisas. Vocês se sentirão mais sábios e estarão muito próximos de encontrar uma razão para viver.
(1)Parmênides de Eléia, cerca de 530-460 a.C.
(Fragmentos dos Cadernos de Anotações de Pablo Gonzalez Garcia, que os escrevia quando menino, até o seu súbito desaparecimento em 05/05/1965; seus cadernos foram encontrados pelo Professor Ernesto em 19/07/2009, enquanto revolvia a terra do fundo do jardim de sua casa para plantar rosas)