Página virada
Ah, o frescor de um amor novinho em folha, novo e repentino e equivocado. E breve, como a maioria. Fico tentando me lembrar daquele beijo invertido, aquela cabeça estranhamente familiar sobre as minhas pernas. Eu sei que foi lento, na minha tentativa de me concentrar e me evadir ao mesmo tempo. Eu estava assustada.
É que sou tão fiel por dentro quanto posso ser infiel por fora. Eu não me esqueço de você, e só fico procurando por aí o gosto que seus lábios poderiam ter. É certo que no meio de nossos próprios beijos eu seria capaz de te procurar, sem nunca conseguir encontrá-lo. E no auge da minha paixão frustrada, beijava o outro com tanta tristeza que o fazia sofrer também, justo ele que não merecia nada disso. E ele logo inferiu que meu coração já havia sido arrebatado, sem espaço pra mais ninguém, o que não era de todo ruim.
Mas agora não preciso mais de você, e nem posso me esconder nessa utopia para sempre. Queria poder dizer que você foi só uma página virada, mas talvez seja um capítulo inteiro, ou quem sabe o livro todo, sei lá. Isso já não importa; ainda tem papel e caneta para rabiscar obras novinhas em folha.