Passo por ela depois de tanto tempo... Bate-me a saudade das tardes escolares quando eu caminhava pelas ruas sem pressa e sem medo. Paro um momento e a olho. A nostalgia chega e fico prenhe de lembranças. Tudo fechado e há um cadeado no portão.
Meus olhos fixam-se em cada detalhe da fachada amada: a elegância das colunas sustentando o terraço, os janelões azulados como os dos casarões colonias, a varanda acolhedora, os enfeites e pequenos nichos nas paredes sempre bem caiadas de branco, a imensa porta entalhada da entrada com jarrões de flores nas laterais, a chaminé que vivia fumarenta a indicar presença e calor humano.
Havia também o pomar em um dos lados da casa com arbustos lotados de frutas, uma cheirosa horta de temperos e, do outro lado, aquele caminho sinuoso entre os canteiros de flores - uma passagem meio escondida de um quase secreto jardim, não muito visível da calçada.
Ah!... quanto eu desejei ali entrar e me misturar, diluir-me na paisagem deliciosa que mais pressentia do que, de fato, eu via.
Onde estariam todos os moradores que povoavam os meus sonhos de menina com histórias que minha mente criava sobre como seria a dona da linda casa do jardim misterioso?
Na manhã cinza e fria, a emoção se agita dentro de mim, mas tenho que obrigar-me a sair dela, sair do devaneio, excluir-me do clima de sonho para guardar a bela imagem só no coração.
Nesse instante, como outrora, a mesma pergunta invade-me a alma: Teria ela, a dona daquela casa, sido feliz ali?
Quem não seria feliz aqui? - responde-me quase imediatamente uma voz muito antiga dentro de mim...contudo lembre-se sempre que cada um carrega consigo o seu próprio e secreto jardim.
Então, afinal, eu sigo. É verdade que sem saber nada a mais do que já sabia sobre esse mágico lugar, mas agora estranhamente serena. Aquecida. Reconfortada.
***
Silvia Regina Costa Lima
28 de maio de 2010
