SE EU FOSSE POETA

Abro espaço no meu dia e voa a minha alma sem meta.

Numa velocidade estonteante, dotados de exactidão

seguem meus dedos pelo papel num incontrolável desafio.

Ora mel, ora fel numa estocada certeira

atingem sem piedade nem pré-aviso,

toda a minha verdade numa declarada guerra

de provocação..

Implacáveis, seguem caminho pelas veredas do que sou,

Chegam subtilmente de mansinho, onde guardo a minha essência.

Embora com prudência perco as forças,

não opondo resistência a esta forma de me descrever...

Leio um desfile de palavras que não ouço mas fazem eco em mim...

Traduzem lutas sem certezas e certezas pelas quais luto,

ataques e auto-defesas nem sempre conseguidos de modo mais astuto...

Sei contudo, que tudo somado é um contributo

Para que eu possa crescer...

Se fosse poeta inspirado, poderia florear a minha pessoa

Pintar de tom rosado até os recantos mais escuros

E fazer das minhas dúvidas um canal sempre seguro.

Porém sei que não posso nem devo

E aceito-me assim por mais que me doa

Tal e qual sou, sinto e me descrevo...

Dulce Gomes