Noites longas e frias
Amor, as noites frias estão chegando.
São noites longas onde o desejo se esconde no arrepio do corpo.
Onde a saudade se ajeita ao redor de mim falando do que é não ter você.
Fala do aroma acre dos nossos momentos que até agora perfumam o ar.
Meu corpo ainda se veste destas fragrâncias cálidas que flertam com o que ficou de ti.
Tu, minha mulher, deixou teu cheiro nos nossos lençóis.
Ainda me embebo e beijo e roço e aspiro o mimo que me destes.
São teus cheiros, meu amor.
É a tua presença em minha vida.
É a tua ausência sentida.
É a vida a nos testar seus tempos, concedendo o gosto inefável de um beijo.
Um beijo...
Depois do beijo... o amor .
Depois do amor... o adeus.
E no adeus fica este silêncio calado a esperar você.
Enquanto te espero o céu emprenha as noites frias...
Gesta estrelas.
Encanta homens.
Sopra os sonhos no mundo.
No silêncio insuspeito dos úteros etéreos as noites se desenvolvem.
As noites frias e longas estendem seus negros véus envolvendo eu e você.
As noites frias chegaram... e trouxeram consigo as muitas flores de inverno.
As flores não imaginam a beleza dos teus olhos.
As cores, que porventura trazem, são meras percepçôes abstratas da paleta do Pintor.
Teus olhos... Teus olhos, meu anjo, teus olhos são a cor de um dia nascido de um mar.
Nos teus olhos, meu amor, as noites compreendem como nascem e morrem os mares.
Compreendem a ilusão que está na luz e na escuridão.
As noites frias e longas são o deitar-se os olhos na angústia inerente à própria criação.
Faz frio...
As noites tremem...
As noites tramam.
Amor, as noites tramam seus mantos com os fios da ilusão, da saudade e da solidão.
Faz-se a noite...
E o céu dentro da noite...
E a noite ao redor de tudo.
Há noites em que as nuvens se perdem a buscar caminhos e, então, o céu se farta de estrelas.
E quanto mais erram as nuvens, mais estrelas se arrojam aos céus.
Pequenitos pontinhos grudados no manto escuro que o dia vestiu pra dormir.
Gotas de uma lágrima que alguém esqueceu de secar.
Pequenas lamparinas estendidas que o céu oferece em reverência ao Criador.
Estes pequeninos olhos voltados para Deus são este sentimento infindo, esta angústia que encobre o sentido que os faz brilhar.
Nas noites longas e frias, em um céu aceso de estrelas, meu amor se finda no teu.
E o meu amor, encantado, se esquece que o Tempo é senhor.
Nas noites longas e frias supõe a possibilidade do beijo.
Pressente, nas tuas palavras, os vales cheios de amor.
Meus sentimentos te dizem como se diz uma prece.
Amor, estar longe de ti é procurar nas brumas o que já se esqueceu.
É venerar nos dias a confusão das horas.
As horas são comparsas do arrastar dos dias.
Os dias já não sentem quando as noites vêm.
São a alegoria notívaga a me afastar de ti.
Nas noites frias e longas meu coração envereda a buscar por ti.
Amor, as noites guardam em si a sensação tenaz do que é comovente.
Só a Alma entende o que na noite vai.
São os símbolos, segredos, silêncios, sonhos... que a Alma lê antes que a luz do dia possa alcançá-la.
O cosmos furta dos teus sonhos para fazer as noites.
Eu, absorto e calado, roubo dos teus sonhos para completar os meus.
Meu amor, as noites fazem-se frias e longas porque eu não as sei amar.