A menina

A menina

Quieta e franzina quase não falava. Não expressava a dor, nem tão pouco o amor que guardava. Rasurava sentimentos em cabos de guarda-chuva nas ladeiras íngremes de seus nadas.

E os anos se passavam...

Ela mal percebia que seu corpo se modificava

Ia com a mãe à feira, e nem notava os olhares fortuitos dos rapazes, a ela, não diziam nada, simplesmente a menina caminhava.

Calma e tranquilamente entre melões e folhas, todas tão viçosas, quanto ela poderia ser...

Se quisesse ser...

Se pudesse ver.

A casa branca rodeada de flores do campo

Tinha janelas arqueadas e um tom de romance inútil que embelezava a rua cinza gris.

Os anos cambaleantes, num belo dia esbarraram na parede sem querer

e começaram a cair da escada!

Uma queda vertiginosa que findou por bater na menina

Que assustada, ao se olhar no espelho...

Talvez pela primeira vez em sua vida,

Surpreende-se com um som agudo

Que a perseguia pela cozinha limpa:

- Vovó, eu queria bolo!

Márcia Poesia de Sá - 2010