Ajudas-me a colori-lo
O pano irá precipitar.
A história está a acabar e quero um novo começo, quero criar uma outra realidade.
Prendo-o. Puxo-o com força e mágoa aqui dentro, as memórias contraem-se e berram para não as extinguir.
Ignoro os seus gritos como ignoraram os meus, fecho-me naquele firmamento que já imagino me pertencer.
O pano irá precipitar.
O cansaço apodera-se de mim e as palavras começam a não aparecer, ocultam-se, têm medo do universo.
Provocas-me.
Desenrolas o sorriso que me mantém de pé e me dá liberdade para dar seguimento. Refugio-me em ti, no que me dizes, no som dos teus vocábulos que continuam a existir em mim.
O pano irá precipitar.
Um minuto, outro, e mais um, e o tempo prossegue a passar.
Ouço um comboio, vozes no cantinho obscuro da mente.
Um minuto, uma hora, demoras que se superpõem.
O pano precipitou.
Não vejo o novo mundo, o novo arco-íris com as colorações que selecionei.
O mundo ainda permanece a preto e branco, necessita de qualquer coisa.
Ajudas-me a colori-lo?