A Means to an End
A Means to an End
"Um amor morre, Rafa. Demora a morrer, mas morre".
E essas palavras ecoam em minha cabeça tal como um mantra. Um refrão repetitivo em Delay que corre e recorre em meus ouvidos... Um desejo incomodo que remói e corrói lentamente de dentro para fora, matando de cansaço e não de dor angustiante.
Perco a cabeça e a concentração; as tormentas se instalam em minha memória, e toda a noite se põe a chover em condenações e lembranças. O cheiro de maresia saudosa invade o quarto, e impregna, por dentro, as janelas e os travesseiros, em luz crepuscular carmesim e azul; tornando-se roxa e piedosa, corrompendo e compondo as horas e o pranto, sem maior expectativa, se não este mesmo som que perfura as orelhas e desconcerta, não deixando escapatória alguma, se não, a tentação de desviar o caminho e estourar em cano alto e escuro; Sem dor ou dormência, se não, horror.
"É tudo vão?" Me pergunta a voz infantil em seus olhos claros e serenos, com sua tristeza de subúrbio e de bebida barata. Fonte rápida e efêmera de prazer.
Eu de imediato não consigo responder. Não.
O amor não é vão, muito menos em vão. É o sacrifício de se permitir conhecer e conhecer o outro, dissipar-se em Outro. Deixar-se dissolver-se líquido dentro de um corpo que não é seu e que passa a ser. É abdicar à Unidade e tornar-se dois, multiplicidade cognitiva vinda de uma união sem sentindo, possuir direitos de eternidade e saber-se efêmero. Passageiro de barca desencarnada. Não, não é em vão. Mas vão é esse cansaço, que nos faz recuar barreiras, tremer diante a distância, e apavorar frente às incertezas que antes faziam-se leis de mármore.
"Quando se aprende a amar, o mundo passa a ser seu". Ter o mundo em mãos e depois desfragmentado em problematizações sem razão aparente, e se deixar consumir pelo cansaço e pela solidão, em descompasso desperdiçado. E ainda assim, ter a certeza de que tudo foi necessário, e ainda por cima, bom. O problema é o tempo em que se conjuga a ação. É ter letras cobrindo a pele, e evaporando em cigarros vários e vinho derramado. Gosto acre na boca, e sem-sabor.
Uma vez provei de meu próprio sangue e ele era amargo, com notas de plasma invertebrado e fugitivo, no qual também era quente e picante, como o fogo que arde nas entranhas do Nada e do absurdo, como a chama multi-color que queima em pupilas ferinas e contorce-se em seu gosto explosivo de metal, e açúcar, e sal.
Não... A eternidade queima em meus olhos. E neste quarto resta apenas o frio morno das tardes de dissabor, das madrugadas em braços firmes, e o som suave de sua voz chorosa em meus ouvidos sem sexo definido. Uma vez você me disse que era preciso ser forte, e em seus dedos eu vi a fragilidade das teclas de piano. Sem satisfação, me abraçou entre sorrisos rubro-escurecidos, e me disse que tudo estava bem. Eu tremi e chorei.
Agora desabo nessas terras de concreto, com essa brasa que se acende e se apaga, ascendendo esses cantos sem direção alguma. À lua, sem destinos, deixam os profetas do Fim-do-Mundo; e sem reação desapareço. Desenterro seus ossos e me desapego; Você não me aponta nas estrelas a direção. Sem caminho, vago como um louco, com um anagrama preso em meu labirinto interno (as entranhas malogradas), e deixo na face do esquecimento sua memória. Beijo nunca dado.