e ainda sumiu com meu EP dos Cramps





    O cara me contou tudo. Insistiu em contar. Até os mais negros segredos dela. E me fez ficar contra a gata. Antes, claro, me pedia conselhos para fisgá-la, depois, fórmulas para tirá-la da cabeça. Mas, sempre, gamado pela guria, mesmo após pisadas na bola, como quando ela, por exemplo, viajava com os amigos, fazendo questão de não levá-lo, ou quando ela começou a andar com o grupo rival. Ele conheceu outras, amadureceu, mas não a esqueceu. Há algumas semanas, como se diz, voltaram. Hoje no Lino's, ela cuspiu mil verbos na minha cabeça, afirmando que eu o manipulava. Fiquei sem reação, tamanha a surpresa: ele ficou à cerveja, endossando o chilique da namorada. Aquele silêncio jogou no lixo uma amizade que vinha desde a oitava série. Imediatamente, voltei para casa. Prometi enterrar a palavra confiança, à Bauhaus, rum e Voltaire. Agora, estou, mais do que nunca, certo de que essa coisa de melhor amigo é baboseira de criança. Ou de mulher.



 

18/2/1996
Lucas de Meira
Enviado por Lucas de Meira em 27/05/2010
Reeditado em 23/05/2014
Código do texto: T2282280
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