POBRE POETA RICO
Quanto mais rico o poeta se torna, em seu âmbito cultural, intelectual e plástico, desenvolvendo sua habilidade em criar e recriar suas loucuras através de palavras soltas ao vento e, também, dizer as verdades com invenções que não atingem o objetivo desejado, pois não encontram aplicação plausível na mente sofrível de parte dos leitores, mais pobre se sente ao receber as loas provenientes de uma infinidade de mentes, inapropriadamente formadas por um regime de engorda de seguidores involuntários dos interesses de poucos.
Assim é que o poeta se depara com uma profícua, divergente e instável incontinência verbal das mais elogiosas e motivadoras acepções até desmembradas divagações sem nenhum preconceito.
Pobre do poeta que derrama sua insensatez e percebe que a insensatez maior está fora de seu ser. Sua percepção diferente da realidade sobrepuja a prática da demonstração da satisfação. Demonstrações essas que dançam em espirais flutuantes tão equidistantes da pretensão original, que fazem os olhos marejarem num brilho exultante entremeado de decepção.
Pobre do poeta que se alinha conforme a medida das massas. Do lugar comum nunca passa. E o caro (e)leitor não avança por preferir exaltar méritos pelos quais seu desejo pretende se nivelar, do que demonstrar o vazio da verdade e consagrar o desentendimento à falta de conhecimento.
E o poeta percebe... percebe, mas se cala. E se cala, consente que essa situação perdure. E dura é a realidade que fala.