[O Rio das Perdas]

[... e a ponte das palavras]

Um de cada lado do abismo,

gritamos, dos respectivos barrancos,

os nossos fracos desejos,

os nossos mal vingados desejos...

Entre nós dois, correm vários rios...

Rio do Medo, Rio da Vertigem, Rio da Voragem,

Rio das Perdas, Rio das Velocidades Loucas,

Rio das Florações Cadentes, Rio das Mortes...

Nossas vivências – flores tombadas nestas

correntezas viajantes para o Nada?

Da admiração inicial nem sempre

nasce o fruto estranho do Desejo;

nem sempre salta a mola da Atração —

às vezes, nasce um quê de Espanto...

Pois, o que é a vida senão aquilo

em que se pensa o dia todo,

senão o plexo de ações em que

nos definimos e nos instituímos

como presença, um no mundo do outro?

E todos os rios, se resumem num só:

o Rio das Perdas - que, afinal, é o grande rio

de todos nós - o Rio de Todos os Nomes,

o Rio da Vida - o grande Rio do Tempo!

Desconsolo é pensar que não lançamos

uma ponte sobre este rio rumoroso;

pois, uma ponte de palavras não basta,

não basta para evitar o esquecimento,

não basta para engendrar a partilha

de experimentados segredos...

[À sequidade do Silêncio,

e ao Grande Rio das Perdas,

o preito humilde da Palavra]

[Penas do Desterro, 26 de maio de 2010]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 26/05/2010
Reeditado em 05/03/2011
Código do texto: T2281079
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